Tijolômetro – Teogonia (1ª temporada):

Tudo começou sem grandes promessas, mas o que se revelou foi absolutamente surpreendente. Imagine um mundo que parece apenas mais um isekai comum, mas que logo se descortina como algo muito mais profundo: deuses, conflitos por territórios que soam sagrados, facções, classes sociais e raças que se chocam violentamente… Teogonia encantou e trouxe aquela alienação fascinante que só as melhores obras podem.
O anime nos apresenta Kai, um jovem refugiado relegado ao papel de bucha de canhão nas linhas de frente enquanto protege sua vila dos invasores demi-humanos. Ele é mortalmente ferido, mas sobrevive — e renasce com a benção de um deus antigo, dotando-o de poder e senso. Temos ali um isekai ainda não totalmente revelado, inserido num mundo mais cru, focado em política, preconceitos contra raças diferentes, e a soberba dos “abençoados” que carregam deuses como armas.
A 1ª temporada de Teogonia conta com 12 episódios. A obra é originalmente uma light novel escrita por Tsukasa Tanimai, com ilustrações de Kouichiro Kawano. O anime é uma adaptação direta dessa obra original, sob a direção de Kunihiro Mori, com roteiro de Tomoyasu Okubo, trilha sonora de Kenji Fujisawa e produção do estúdio Asahi Production. Asahi tem reputação sólida em animes de ação e fantasia — já trabalhou em “Phantom in the Twilight” e produções de “SD Gundam”, e aqui demonstra coesão entre atmosfera sombria e momentos épicos.
O protagonista Kai se destaca como um clássico herói carismático: baixo na escala social, sobrevive com migalhas ao lado de outros refugiados, luta por um lar que ele mesmo mal compreende. Sua reencarnação ou revival — ainda não explicado — e as lembranças vagas de conhecimentos científicos dão um toque de mistério vital. Um dos elementos mais impactantes da obra é o ritual simbólico (e visceral) de beber o “núcleo” — uma pedra oca com líquido no lugar do coração — do inimigo derrotado. Isso adiciona uma aura tribal quase antropofágica à narrativa, ressoando tradições míticas onde se acreditava que absorver os poderes de um adversário era parte de cerimônias sobrenaturais.
O título “Teogonia” também carrega referências filosóficas — da teogonia grega clássica, especialmente Hesíodo — sobre a origem e genealogia dos deuses. O anime aproveita essa base para construir seu próprio panteão, com o “Deus do Vale” conhecido como “Deus da Arbitragem” como figura mais poderosa. A representação dual entre Kai — gentil — e seu deus — arrogante e cruel — é fascinante, especialmente num cenário onde deuses se transformam em força bélica.
Teogonia foi uma das grandes surpresas da temporada primavera-japonesa. Sua mistura de fantasia, drama social, políticas cruas e mitologia funciona muito bem. Está disponível para streaming na Crunchyroll. Quanto à continuação — infelizmente não há confirmação oficial da 2ª temporada, apesar da esperança entre fãs. Espero ansiosamente também. Até lá, mergulhe nesse universo — e prepare-se para desejar mais.
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