Quando a produção de Get Back foi anunciada por Peter Jackson já causou alvoroço no mundo pop, assim como tudo que seja sobre a banda formada pelos históricos John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr, os The Beatles. Mas desta vez foi um pouco diferente, o documentário encomendado pela Disney reviraria mais de 150 horas de áudio e 60 horas de gravações de vídeo capturados durante a tumultuada gravação do álbum Let it Be em janeiro de 1969. Prometendo uma visão inédita e íntima daqueles que ficaram conhecidos como os últimos dias dos Beatles como uma banda, Peter Jackson nos brindou com 3 episódios de quase 3 horas cada um, em que nos sentimos dentro dos estúdios e das conversas da banda, testemunhando o dia-dia de grandes astros do rock, seus desentendimentos, suas genialidades… suas humanidades.
É impressionante notarmos como The Beatles influencia até os dias de hoje. Os quatro rapazes de Liverpool, que se uniram em meados dos anos 50 e que se separaram no ano de 1970, ainda repercutem cinquenta anos depois. E é espantoso como ainda conseguem gerar conteúdo inédito mesmo após todos esses anos. Get Back, apesar de já ter gerado um filme nos anos 70 com estas mesmas gravações, trouxe muito material inédito de cenas que não foram aproveitadas ou até algumas que já conhecíamos, porém agora com um tratamento de áudio e imagem excelentes. Inclusive a edição de Peter Jackson foi capaz de desenvolver uma inteligência artificial para tratar o áudio que conseguiu distinguir ruídos, sons de instrumentos e conversas paralelas de gravações em mono e isolar o que de fato era interessante nas gravações. Com isto muitas conversas que não eram percebidas nos áudios originais passaram a ser inteligíveis, propiciando um material singular sobre a banda. E isso é muito importante para enfim desvendarmos e entendermos o que realmente se passou nesse período de gravações que até então era tido como um momento amargo da história dos Beatles. Jackson faz um trabalho narrativo interessante colocando uma ordem cronológica dos acontecimentos, os Beatles tinham 3 semanas para criarem 14 músicas e conceberem um show, o que por si só parece ser um roteiro perfeito: a pressão do tempo apertado, os conflitos gerados, um deadline, a criatividade posta à prova. E um dos momentos mais marcantes do documentário é fruto disto: quando Paul, pressionado pelo tempo curto para produzir, concebe do nada, ali no estúdio, a música homônima do documentário, Get Back (pode relembrar deste momento nos vídeos abaixo.)
Essas gravações do álbum Let it Be ficaram marcadas pelos desentendimentos dos integrantes da banda, chegando ao ponto de George Harrison se desligar da banda por desentendimentos com o Paul McCartney. Os Beatles se tornaram uma banda com apenas 3 integrantes por quase uma semana, bem, mais ou menos, já que Yoko Ono era presença mais que constante ao lado de John Lennon nos estúdios, numa relação quase simbiótica e um tanto incômoda. Com o advento do documentário Get Back, enfim tivemos acesso mais profundo dos acontecimentos de janeiro de 1969, que não omitiu tais fatos, porém esclareceu como ocorreram. Cada um dos Beatles estava em momentos diferentes em suas vidas, Ringo Starr estava para gravar seu filme, John descobrindo seu lado mais progressista ao lado de Yoko, George cansado de brigar por espaço na banda já pensava em voo solo e Paul, com vontade de ainda fazer algo marcante como banda, sentia-se na função de fazer o grupo funcionar, e em alguns momentos agindo como um líder déspota. No documentário presenciamos e até nos constrangemos nesses momentos. Mas também notamos que a produção trata de seres humanos, que erram, brigam, mas que também se entendem, se desculpam e que se harmonizam.
O disco Let it Be a partir de hoje não será mais um álbum marcado pelas brigas e desentendimentos, mas sim como o álbum que fez os Beatles se superarem. Compondo excelentes canções, demonstrando muito companheirismo e afeto uns pelos outros. Que por mais que se desentendessem, após uma conversa voltavam a sorrir, a se ajudar nas composições de cada um e, claro, o que faziam de melhor, a tocar. E a presença do cantor e tecladista Billy Preston ajudou bastante para isso, sua presença quase fortuita se tornou uma grande adição musical e anímica para a banda. Chega um momento que o estúdio da Apple parecia mais um ambiente familiar do que simplesmente de trabalho, com as esposas dos integrantes e até a enteada de Paul participando das jams sessions e ensaios da banda.
O clímax é o histórico show do terraço em Londres, e aqui Get Back brilha ainda mais forte mostrando toda a concepção da ideia do show, como também os inéditos 40 minutos completos de apresentação e toda a comoção do público e dos policiais da cidade. Get Back se transforma em um documento histórico não só para os fãs de The Beatles, mas para toda a arte popular moderna. Um colírio visual e artístico de quase 8 horas de duração, que passam voando, aonde somos um mosquitinho na presença de gigantes.
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