Tijolômetro – Wind Breaker (1ª Temporada)

Wind Breaker é aquele tipo de anime que chega de fininho, sem muito alarde, mas que quando você percebe, já está completamente envolvido com seus personagens, suas lutas vibrantes e, principalmente, com o coração que pulsa por trás de cada soco trocado. Com uma proposta que mistura ação intensa, estética urbana e uma mensagem surpreendentemente positiva sobre comunidade e conexão humana, a primeira temporada de Wind Breaker consegue capturar o melhor do gênero “gangue escolar”, ao mesmo tempo em que subverte suas expectativas. Em tempos em que o individualismo reina nas tramas shounen, é refrescante ver uma história onde o altruísmo, a amizade e o respeito ao próximo são colocados no centro do palco — mesmo que esse palco seja um beco escuro onde voam socos e chutes a cada esquina.
A série é baseada no mangá de Satoru Nii, publicado originalmente na plataforma Magazine Pocket, da Kodansha. A adaptação para anime ficou a cargo do estúdio CloverWorks, conhecido por trabalhos de alto nível como Wonder Egg Priority e Horimiya. A história acompanha Haruka Sakura, um adolescente que chega na cidade com o objetivo de se tornar o mais forte do colégio Fuurin, famoso por seus delinquentes. Mas ao contrário do que ele — e nós, espectadores — imaginamos, a gangue Bofurin não domina a cidade pela força bruta ou pelo medo: ela protege a comunidade, cultivando laços de amizade e respeito com os moradores. É nesse contraste entre expectativa e realidade que Wind Breaker brilha, construindo uma ambientação urbana viva, colorida e cheia de energia, onde o asfalto vibra não apenas com os confrontos físicos, mas com a intensidade dos sentimentos humanos.
Tecnicamente, Wind Breaker é impecável. A animação da CloverWorks entrega lutas fluídas e bem coreografadas, com um uso inteligente de câmera dinâmica e ângulos ousados que colocam o espectador dentro da ação. A estética visual mistura cores vibrantes com uma paleta urbana suja e carregada de tons acinzentados, o que ajuda a reforçar a atmosfera de juventude rebelde da história. Cada episódio é um deleite visual, com destaque para os confrontos corpo a corpo que, além de bem animados, carregam peso emocional. Não é só pancadaria por pancadaria: cada golpe tem um significado, cada combate é um embate de ideologias e valores.
Um dos aspectos mais interessantes dessa temporada é a forma como ela transforma uma gangue escolar em uma metáfora de comunidade. Os líderes da Bofurin, como Umemiya, são figuras carismáticas e altruístas, que se preocupam genuinamente com seus membros e com os moradores da cidade. É um retrato quase utópico de liderança — e aqui vale o parêntese —, pois em nenhum momento a presença do Estado ou de qualquer força policial é mencionada. Para nós brasileiros, essa ausência soa familiar, considerando as comunidades onde o tráfico ou a milícia assumem o papel de autoridade. Mas em Wind Breaker, essa estrutura paralela é mostrada de forma positiva, como um organismo de proteção e apoio mútuo, o que pode soar fantasioso em um contexto mais realista. E também não se fala da família dos membros, como no caso de Sakura que chegou de fora e nem sabemos com quem ou como mora. Ainda assim, dentro da lógica da série, essa utopia funcional contribui para a construção do sentimento tribal e de pertencimento que embala toda a narrativa.
Haruka Sakura é um protagonista com quem é fácil se identificar. Ele chega à cidade com a mente moldada pelos clichês do gênero: força bruta, dominação, reputação. Mas aos poucos, e com certa resistência, vai percebendo que o verdadeiro topo não é ocupado por quem bate mais forte, mas por quem está disposto a se conectar com os outros. Seu arco de desenvolvimento é singelo, mas significativo, e funciona como reflexo do próprio espectador, que também entra esperando um anime de porradaria e encontra um drama humano disfarçado de ação juvenil. Os personagens secundários, embora sigam certos estereótipos (o brincalhão, o sério, o estrategista), têm seus próprios momentos de brilho e justificam suas atitudes não pelo ego, mas pelo bem comum — uma subversão sutil, mas poderosa.
É curioso como a série consegue equilibrar tão bem o espetáculo das lutas com a doçura de suas mensagens. Em 13 episódios, Wind Breaker transita com facilidade entre cenas de ação empolgantes, momentos de humor leve e passagens emocionantes que aquecem o coração. Tudo isso embalado por uma trilha sonora energética e uma direção segura que sabe quando acelerar e quando parar para respirar. O tempo passa voando e, ao fim da temporada, fica aquele sentimento gostoso de querer mais. E nesse “mais”, não é só mais lutas — é mais tempo com aqueles personagens, mais daqueles diálogos simples, mas sinceros, mais dessa visão calorosa de um mundo que, mesmo violento, ainda pode ser gentil.
Para a alegria dos fãs, Wind Breaker já teve sua segunda temporada confirmada para 2025 e está em exibição atualmente. A continuação promete expandir ainda mais o universo da Bofurin e aprofundar os laços entre seus personagens. A primeira temporada está disponível oficialmente no catálogo da Crunchyroll, com legendas em português. Se você procura um anime que entregue ação de qualidade, personagens carismáticos e uma mensagem que vai na contramão do cinismo habitual, Wind Breaker é uma escolha certeira. Pode parecer só mais um anime de gangue… até que ele te dá um soco — direto no coração.
Assista ao trailer da primeira temporada:
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