Por Vanessa Barros
Em pouco tempo, a dúvida sobre possível relacionamento mantido por ele fora de casa foi solucionada. Uma informação que a fez sofrer muito a princípio, mas que, por outro lado, facilitaria o processo de separação. Quanto mais apaixonado ele estivesse, mais rapidamente ela ficaria livre do peso no qual ele se transformara. Odiou-o por tempos, mas este sentimento pouco virtuoso também foi superado com o passar dos meses. Poderia sentir-se diminuída em comparação à nova companheira do ex, tal como ele desejara, mas optou por sentir-se grata à mulher que se se fazia o centro das atenções dele. Mulher que certamente havia sido conquistada com mentiras… Assim como ela própria. Odiá-la? Para quê? Bobagem… Yolanda procurava não armar os meninos contra o pai, mas não tentava suavizar nada quando manifestavam algum ressentimento mais intenso. Problema dele a forma com que escolhera ser visto pelos filhos. Com a ajuda dos meninos e, surpreendentemente, dos pais de Marcelo _a amizade entre eles e a ex-nora não seria desfeita pelo mal comportamento do filho_, Yolanda passou a tratar da reconstrução de sua vida. O mundo não havia acabado. Essa era a verdade. Era uma mulher nova, forte, bem disposta, ainda tinha muita energia. Conseguiria levantar-se. Principalmente por contar com o apoio dos filhos.
Em outro canto da cidade, em bairro bem distante, na época em que Marcelo e Yolanda tiveram o primeiro menino, outro casal decidia unir-se em aliança para até que a morte os separasse. Eram Danilo e Marina.
Danilo, moço bom, apaixonado pela namorada, muito trabalhador mas sem emprego fixo, assumia na época serviços de pedreiro. Queria muito estudar e tentar vida melhor, trabalhar num serviço menos cansativo e mais respeitado, embora não visse, ele próprio, problema algum em ser pedreiro, uma profissão muito digna como tantas outras. Com pouco dinheiro, ele, já pensando em se casar-se com Marina, comprara parte de um lote onde construiria uma casinha para morarem. E seria uma casinha muito bem feita, bonita mesmo. Queria que Marina fosse feliz nela. O que dependesse dele para que a futura esposa ficasse contente seria feito.
E não era só promessa. O rapaz , todas as noites, depois de cansativos dias de trabalho, ia para o terreninho que compara e após instalação de precária iluminação, trabalhava na construção daquela casa que seria sua e de sua amada dentro de alguns meses.
A casa fica pronta e durante a compra dos móveis, feita pelos dois, corriam os papéis para o casório. Marina também tinha seu dinheirinho ganhado com muito trabalho em um salão de cabeleireiros. Também se esforçava muito. Embelezava com zelo e paciência as unhas de muitas mulheres ao longo de um dia. E tinha clientes nada fáceis às vezes. Queria crescer, ter uma vida melhor. Unindo-se a Danilo que também pensava assim, tinha grandes chances de junto dele estar em condições muito melhores no futuro.
Casa pronta. Montada. Chegada a data do casamento. Foi feita uma cerimônia religiosa simples, mas muito bonita, numa igreja do bairro onde a família de Danilo morava.
O casal recebia de todos sinceros votos de felicidade e em tudo pareciam combinar. Muito simples, vivia feliz em sua minúscula, mas muito bem construída casa. Todo o dinheiro ganho pelos dois era dos dois. Ele construindo casas, ela embelezando mulheres. Os filhos só viriam quando a situação melhorasse. Criar filhos naquela casa era impossível. Era necessário trabalhar bastante. Estudar. Crescer muito primeiro.
Danilo, certo dia, assim como Marcelo, resolve estudar. Precisa terminar o segundo grau e quem sabe um dia, se der, fazer uma faculdade. O segundo grau concluído já ajudaria bastante. Marina, apoiando o marido, decidiu estudar também. Assim, dentro de algum tempo, concluiriam o curso médio. As famílias orgulhavam-se e todos sentiam-se felizes por formarem os dois um casal tão disposto e decidido a crescer junto. Iriam, com certeza, longe. E chegariam lá, mesmo não sabendo muito bem onde esse “lá” se localizava.
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Vanessa Barros (MG) é escritora. Autora dos livros Crônicas a Bordo de um Trem Urbano e Crônicas a Bordo de um Trem Urbano – A viagem continua. Para conhecer mais sobre o seu trabalho ouça nossa entrevista com ela no Leituracast 11.