Adaptação da série de quadrinhos homônima criada por Robert Kirkman (The Walking Dead) e Paulo Azaceta, Outcast é uma série produzida pela Cinemax que estreou no dia 3 de junho de 2016 contando com 10 episódios na sua primeira temporada (a segunda já está confirmada para 2017).
A série conta a história de Kyle Barnes (Patrick Fugit), um rapaz que desde a infância, é afetado por possessões demoníacas ao seu redor. Depois de superar as dificuldades que enfrentou ainda jovem, quando sua mãe fora possuída por anos, Kyle tem seu casamento arruinado devido a uma suposta violência doméstica que teria feito contra Allison (Kate Lyn Sheil) e Amber (Madeleine McGraw), suas esposa e filha respectivamente. De início não sabemos o motivo para tal ato pois Kyle parece amá-las muito e ainda sofre pelo acontecido.
Com sua vida familiar destroçada e não se importando mais consigo mesmo, nosso protagonista decide voltar à sua cidade natal, Rome, onde revive várias de suas lembranças sombrias acontecidas em sua casa na época em que ainda morava com sua mãe possuída. Apesar dos esforços de sua irmã de consideração, Megan (Wrenn Schmidt), Kyle só encontra motivação para continuar sua vida quando o Reverendo Anderson (Philip Glenister), o mesmo pastor não muito ortodoxo que tivera ajudado na exorcização de sua mãe, tenta recrutá-lo para mais um trabalho contra possessão demoníaca na cidade. Na atividade percebem não só que Kyle tem um talento nato para fazer tal tarefa (um dom para expulsar os espíritos malígnos de dentro do corpo de seu hospedeiro) mas também que tais espíritos têm uma conexão com ele, que os atrai a sua volta desde a infância pois ele é um Outcast.
Patrick Fugit mostra carisma em seu primeiro protagonista na carreira, convencendo como o problemático Barnes, sem deixar a desejar no drama quando lhe é exigido. Outcast conta com mais nomes de valor em seu elenco, como o experiente Philip Glenister e o famoso Reg E. Cathey (Quarteto Fantástico) que dá vida ao Delegado Giles na série.
A série consegue capturar a atenção logo no primeiro episódio, com cenas fortes de possessão, um suspense aguçado e um drama pessoal instigante não só de Kyle Barnes, mas também do elenco de apoio. Rapidamente o espectador tem interesse em saber mais dessa nuvem de mistério em volta dos personagens: Por que Kyle agrediu sua esposa? O que é um Outcast? Por que sua mãe ficou catatônica? Qual a relação com sua irmã? Questões que abrem nossa curiosidade e interesse em acompanhar o bom ritmo da série.
Há de se notar que além dessas questões, percebemos uma estética visual e narrativa parecida com a outra obra de mais sucesso de Kirkman, The Walking Dead, mantendo um bom nível na qualidade de produção, quesito este levado ao esmero na sua série co-irmã, só que em Outcast não temos zumbis e sim “demônios”.
Assim como no bom tom de cores que variam da luz à escuridão usados ao longo da série, Outcast aborda igualmente tal dualidade na questão da moral humana: Até onde somos aptos a interferir nos acontecimentos? Somos capazes de julgar o que é certo ou errado, bom ou mal? E quais são as consequências? Este é o estopim que eleva a relação de Kyle e o Reverendo Anderson a outro patamar, principalmente quando algumas vítimas depois de exorcizadas ficarem catatônicas. Outras camadas dos personagens de apoio também contribuem para uma reflexão um pouco mais profunda sobre tais questões. Como a situação vivida por Megan, vítima de estupro na infância, que volta a ter sua vida afetada quando tem que encarar psicologicamente tal trauma em outra fase da vida, quando seu ex-amigo e estuprador volta à cidade.
Apesar de um início promissor com uma excelente pegada nos momentos de exorcismos e suspense, a série deixa a desejar na metade pro final da temporada, quando as buscas por novos casos dão lugar a conflitos como o de Anderson e Sidney (Brent Spiner) e também quando nos é revelado que existe uma organização para receber tais espíritos recém chegados ao plano terreno, espíritos estes que talvez não sejam realmente demônios vindos do inferno. Elemento que cria novas possibilidades para a história, podendo sair do clichê religioso de possessões, mas também desanima quem gostou da abordagem mais, digamos, cristã do início da série. Criando assim uma lâmina de dois gumes. Ainda não temos certeza de nada, o que só cria mais expectativa para termos mais essa pergunta respondida na segunda temporada.
Entre mais altos do que baixos, Outcast consegue mostrar um bom potencial já em sua primeira temporada. Uma trama de camadas entre seus personagens constroem muito bem o enredo em volta de Kyle Barnes com uma temática chamativa e mistérios ainda a serem revelados. Porém peca no ritmo arrastado a partir do quinto episódio e precisa ser mais firme em seu discurso no momento de dizer a que veio. Há potencial para se tornar uma obra memorável, contanto que se desenvolva sem ser mantida sob rédeas curtas.