Recentemente, estreou a tão aguardada adaptação de O Orfanato da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares, o romance de estreia de Ransom Riggs. Grande parte da expectativa sobre O Lar das Crianças Peculiares se dava pelo fato de a produção ser comandada por Tim Burton, grande referência quando se fala em filmes fantásticos. Dessa vez, porém, o aclamado diretor errou feio ao transpor a narrativa das páginas para a telona, chegando ao ponto de alterar fatos cruciais da obra de origem.
O filme de Burton parte da mesma premissa do livro: Jacob (Asa Butterfield), um garoto em busca de respostas sobre o passado do avô (Terence Stamp), parte para uma pequena ilha no País de Gales para localizar o antigo orfanato da Srta. Peregrine (Eva Green) e seus habitantes. Chegando lá, ele encontra apenas as ruínas do lugar, porém acaba descobrindo que a tutora e as crianças que ali moravam encontram-se em uma fenda temporal, protegidas da ameaça de pessoas comuns e outras criaturas ainda mais perigosas. A partir daí, Jacob tem seu destino atrelado aos peculiares e precisa ajudá-los a enfrentar um inimigo em comum.
Quem leu a obra de Riggs, percebe que até determinado momento da história, a película segue a mesma trajetória. Contudo, logo vemos que, apesar de ir pelo mesmo caminho, a trama não consegue captar a mesma emoção transmitida pelas páginas. O que motiva o protagonista no original é justamente a relação com o avô, a necessidade de honrar sua memória. Já no filme essa relação é superficial, assim como todas as outras para falar a verdade, visto que todos os personagens não têm carisma algum e não conseguem imprimir uma carga emocional. Como se isso não bastasse, todo o pano de fundo da Segunda Guerra e do nazismo, junto com a sensibilidade de tocar nesses assuntos, é deixado de lado.
A partir daí começam as mudanças. A mais óbvia é a troca de peculiaridades de duas personagens marcantes: Emma e Olive. A primeira – o par romântico de Jacob – originalmente tinha a capacidade de criar chamas, o que era bem condizente com sua personalidade forte. Já a segunda, uma criança, conseguia flutuar por ser mais leve que o ar. Por algum motivo não justificado, Burton inverteu suas habilidades e continuou a modificar e acrescentar personagens quem nem tinham destaque no livro.
Só que mudar esses detalhes não foi o que desvirtuou o longa-metragem. O que mais o prejudicou foi o fato da essência se perder. Ranson Riggs conseguiu criar uma trama envolvente que mesclava diversos gêneros como o suspense, o terror, a aventura e até a comedia. Mas o que Burton nos apresenta é uma versão infantilizada, muito inferior ao que ele comumente produz. Fica óbvio que, mais uma vez, prevaleceu a vontade de arrebanhar espectadores para os cinemas buscando lucros, principalmente em cima do público infanto-juvenil. A prova cabal disso é o filme mudar completamente o desfecho da história, valendo-se de uma cena de “batalha” cômica digna de uma comédia pastelão.
Diante de tudo isso, é pouco provável que quem apreciou o livro vá gostar de O Lar das Crianças Peculiares. Até mesmo quem não leu corre o risco de se decepcionar por não se envolver com a narrativa. No mínimo haverá uma sensação de frustração de ambos os tipos de espectadores. Pois mesmo sendo uma adaptação, passível de mudanças e releituras segundo a visão do diretor, a essência deve ser mantida, porque foi ela a responsável pelo sucesso da obra.
Resenha de O Orfanato da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares
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