Fazer reviews de franquias/séries de filmes, livros, jogos, ou qualquer outra coisa é uma tarefa que pode ser um bocado ingrata para o revisor, principalmente quando se trata de filmes, porque, em algum momento, o revisor terá que encarar o famigerado terceiro episódio e a chamada Maldição do Terceiro Filme. Ao elaborar uma lista de filmes que caíram na Maldição do Terceiro Filme, muita gente inclui Alien 3 sem hesitar, o que acho de certo modo um bocado injusto. Não nego que o terceiro filme do xenomorfo teve seus pontos baixos, dos quais também falarei aqui, mas, na época, os pontos negativos foram repetidos tão exaustivamente que as pessoas praticamente ignoraram os méritos. Pretendo, portanto, recapitular alguns acertos deste filme que, a meu ver, é um sci-fi/terror bem diferente do primogênito de 79 (leia a crítica aqui), mas, ainda assim, consegue ter seu lugar na franquia e ser um bom filme.
Após os acontecimentos de Alien: O Resgate, a nave militar Sulaco traça seu curso para retornar à Terra com seus tripulantes: a tenente Ellen “Schwarze”-Ripley (Sigourney Weaver), o andróide Bishop (Lance Henriksen), a menina sobrevivente Newt e o cabo Dwayne Hicks (Michael Biehn). A viagem de volta corre bem, até que um alienígena sai de um ovo, inoculado em algum lugar da nave, causando um acidente e forçando a ejeção das cápsulas criogênicas dos tripulantes no planeta prisional Fiorina “Fury” 161. Ripley é a única sobrevivente do acidente, e agora se vê diante do desafio não só de sobreviver ao planeta-prisão, como também de enfrentar a criatura alienígena assassina à solta.
Ok. Vamos por partes…
Grande parte do sucesso de Alien: O Resgate foi a empatia do público com os personagens, e foi esse mesmo público que, depois, fechou a cara e xingou a mãe do diretor David Fincher quando viu tais personagens morrerem logo nas primeiras cenas de Alien 3. Ao testemunhar tal reação, fico me perguntando “gente, o que vocês esperavam? Que a Ripley e o Hicks adotassem Newt, e fossem morar numa fazenda pra criar fachuggers domésticos?“… Esse tipo de público que queria mais do mesmo de Alien: O Resgate se decepcionou porque não encontrou isso em Alien 3. Além de causar no público um choque inicial pela morte dos personagens do filme pregresso, Fincher resgatou aquele elemento clássico do Terror do monstro que sempre retorna, apesar de todos os esforços dos protagonistas para derrotá-lo, deixando sugerida no ar claustrofóbico da Sulaco a pergunta “como aquele ovo de alien foi parar ali?“.
medida que acompanhamos Ripley, conhecemos melhor o funcionamento da prisão de Fiorina 161. É um planeta inóspito, que possui certa atividade mineradora (pra dar aos detentos alguma atividade), não possui armas e seus prisioneiros seguem um rígido código de conduta. A empatia entre o público e os presidiários de Fiorina 161 não é imediata, e não é pra menos. Primeiro, porque são presidiários. Segundo, porque acho que tal tensão inicial entre Ripley e os detentos teve o objetivo de fazer o espectador ficar na dúvida sobre qual era a ameaça maior: o alienígena hostil à solta, ou nós mesmos, humanos. Confesso que essa alternância de foco entre as ameaças compromete um bocado do filme, mas, ao constatarem a existência de um inimigo comum, aí sim se cria certa empatia, não tanto quanto em Alien: O Resgate, tenho que admitir.
As sequências de ação e trilha sonora cumprem seus papéis, com destaque pros efeitos visuais, que até foram indicados a prêmios. O grande gatilho de tensão nessas cenas é que os personagens têm que se virar pra capturar, e matar, o alienígena sem usar armas, mas não chegam a ser cenas muito surpreendentes.
Concordo que o maior problema do filme é o desfecho. Em 1979, vimos uma Ellen Ripley que era uma cientista enfrentando uma criatura alienígena hostil; no segundo (que você pode ler aqui), vimos uma Ripley brucutu, quase militar, o que lembrava, de certo modo, a personalidade de Sarah Connors; no terceiro, vimos Ripley ter que se adaptar à circunstâncias completamente diferentes das duas anteriores, e essa sequência de reinvenções da protagonista vivida por Sigourney Weaver perde muito de seu sentido, quando ela se sacrifica pra impedir que a empresa Weyland-Yutani pusesse as mãos no espécime alienígena para, enfim, fazer dele uma arma biológica. Tal sentido só se perde completamente em Alien: A Ressurreição…
Pra muitos, a frustração de expectativa é sempre negativa, mas pra outros ela pode ser uma surpresa positiva, e apesar da trilha sonora meio apagada e dos problemas no desfecho, o longa de David Fincher conseguiu ser um bom filme, trazendo coisas novas ao universo do xenomorfo, ao mesmo tempo em que se valeu de elementos clássicos dos filmes anteriores, principalmente da tensão claustrofóbica.