O clichê do homem de família que trabalha tanto que acaba se tornando um marido e pai ausente, talvez seja um dos maiores clichês do século XX. O cinema americano particularmente tem um fascínio com essa figura de dilema básico: ao mesmo tempo em que tenta sustentar sua família, ele se afasta dela. Geralmente todos trabalham com a mesma mensagem, família é o que importa não o dinheiro ou status. Um Homem de Família é mais um desses filmes.
Acompanhamos a vida de classe mádia alta de uma família americana comum, quando um drama se abate sobre ela: o filho mais velho (em torno de 13 anos) é diagnosticado com leucemia. Devido a isso, começamos a acompanhar a jornada do pai da família em conciliar o seu trabalho de gerenciador de talentos e o papel de pai.
Um erro de Um Homem De Família é ter sido excessivamente baseado no sucesso de “Lobos de Wall Street”, tenta-se criar um protagonista que é um manipulador carismático, mas com a moral de uma pessoa completamente detestável, pois, ao mesmo tempo, o personagem Dane (interpretado por Gerard Butler) precisa ser um canalha completo e um pai amoroso. Fica muito difícil se conectar com um homem que faz atrocidades para continuar disputando o alto cargo de sua empresa. Não haveria problema em ver um personagem totalmente amoral, o problema é que todo o filme tenta fazer você se importar com ele e pensar “ele é um bom pai”, quando na realidade isso é tudo o que ele não é.
Um outro problema do filme está também em seu roteiro, escrito por Bill Dubuque, passa a maior parte do tempo no trabalho de Dane e acaba contradizendo toda a ideia que “a família é o mais importante”. Aliás, o protagonista reage de uma forma muito estranha ao tentar por a culpa em alguém quando descobre a leucemia do filho. Até mesmo quando seu filho está perto da morte, ele continua se comportando como se a família fosse um estorvo que o impede de trabalhar.
A direção de Mark Willians, que faz sua estréia aqui, é bem pouco ousada, pois afinal esse é um filme simples e, realmente, não necessita de grandes estripulias. Por vezes a fotografia é bem interessante e alguns enquadramentos são bastante belos, mas nada realmente marcante. As atuações são muito boas, é visível que Gerard Butler se esforça muito em seu personagem, tendo que ir do carismático canalha até o pai sofrido. Elise (interpretado por Gretchen Mol) é a esposa e mãe submissa que basicamente briga com o protagonista para que ele dê mais atenção à família, mas na realidade não tem personalidade ou qualquer coisa que a torne interessante. Willem Defoe interpreta o chefe da empresa em que Dane trabalha, sendo a síntese do empresário sem sentimentos, totalmente materialista e que trata todos os seus funcionários como descartáveis. Alfred Molina tem uma participação curta, mas, em uma cena em especial, consegue brilhar por um curto momento.
Acredito que o grande problema é a mensagem que o filme passa, ou pelo menos tenta. Ele defende a ideia de que “tudo que vai volta”, ou seja, se você faz uma coisa boa isso volta para você. A questão é que isso é feito de forma totalmente equivocada e por vezes até mesmo de mau gosto. Acima de tudo, o mais perturbador é que a obra acaba glorificando o “trabalho” em sentido amplo e tudo o que ele representa no sentido mais capitalista possível em detrimento da família, mas o roteiro tenta lhe vender que tudo é solucionado e que o equilíbrio do protagonista é finalmente é encontrado. O drama familiar fica secundário em relação ao emprego e, além de não temos uma história emocionante, Um Homem de Família também não cria, de forma satisfatória, a narrativa sobre um personagem de caráter dúbio.