Surpreendentemente bom!! Rei Artur: A Lenda da Espada é verdadeiramente a surpresa do momento no circuito de estreias. Sob o comando de Guy Ritchie, que está se especializando em fazer boas releituras de personagens clássicos da literatura (diretor também da versão mais atual de Sherlock Holmes nos cinemas), o longa-metragem impõe bom ritmo, excelente narrativa (coisa que já lhe é de feitio), uma boa trama e uma versão repaginada e vívida do renomado e já muito explorado Rei Arthur.
Confesso que fui à pré-estreia sem muitas expectativas, os trailers e prévias soavam como uma versão “Deuses do Egito” para a Mitologia Arturiana, mas Rei Arthur: A Lenda da Espada conseguiu surpreender até o cinéfilo mais otimista ou um grande apreciador das obras sobre Arthur (no meu caso, principalmente, a versão dos livros de Cornwell). Com boas construções de personagens, sequências de ação interessantes e bem coreografadas e uma narrativa dinâmica, quesitos que percebemos grandes semelhanças com os filmes de Sherlock Holmes de Ritchie.
A história, como já era de se esperar, conta a história de Arthur (Charlie Hunnam), filho de Uther Pendragon (Eric Bana) o rei da Inglaterra que é traído por seu irmão Vortigern (Jude Law). Após conseguir escapar com vida, Arthur, ainda criança, é criado como desconhecido, até por ele mesmo, em um bordel em Lodinium. Crescendo e aprendendo a viver para sobreviver em um mundo cruel e violento, Art, como é conhecido, se depara com a possibilidade de desencravar a famosa e poderosa espada de seu pai, que havia aparecido novamente para dar seu poder ao herdeiro legítimo do reino, o Rei de Nascença. Porém Vortigern, apreciador da magia negra, conta com essa chance para eliminar sua única ameaça.
A mitologia de Arthur conta com várias versões e personagens diferentes, o filho de Pendragon já foi de um bastardo fora da linha de sucessão à um aristocrata romano se voltando contra seu próprio povo. Porém, além de toda a jornada de heróis com diferentes roupagens, o elemento que sempre permeia tais histórias é a magia. Tradicionalmente a magia é abordada nas histórias de Arthur focando no conflito entre as raízes da Inglaterra e o desenvolvimento daquela sociedade, onde, cada vez mais, a magia é desacreditada. Por vezes, o elemento mágico é até deixada como algo secundário perante o drama ou jornada vivencia por Arthur em suas diversas obras. O ponto positivo de Rei Arthur: A Lenda da Espada é entrar de cabeça numa história onde a magia é um fator preponderante, mesmo não tendo os grandes magos clássicos na história. A própria espada (cujo o nome não é citado no filme) confere poderes sobre-humanos a seu portador, transformando-o numa espécie de super-herói, porém sem ficar forçado no roteiro e nem na própria estética do filme.
Logo de início somos brindados com uma excelente sequência de ação, onde percebemos o peso da magia nesse mundo. Elefantes com o triplo do tamanho dos Mumakil de Senhor dos Anéis sendo controlados por Mordred, que no filme é um mago (logicamente, um mago das trevas). E, desde já, somos envolvidos pelas ótimas produções de efeitos especiais, figurinos e fotografia do longa. Cenas e sequências de peso que vão ditar todo o filme, uma linguagem característica de Guy Ritchie. Podemos perceber diversas assinaturas do diretor ao longo da projeção que dão lucidez e dinâmica surpreendentes. Percebemos estes toques em outros filmes do diretor já citados aqui no texto, porém em Rei Arthur o desafio é maior, pois é uma história que se passa na Idade Média. Guy conseguiu traduzir bem uma era tão discrepante da nossa realidade, com uma narrativa dinâmica e moderna, que, para tal, mais uma vez, ele abusou de suas montagens em que os personagens planejam seus passos e planos, enquanto a execução dessas ideias já nos são apresentadas concomitantemente com os mesmos planejamentos.
Apesar de Eric Bana e Djimon Hounsou já serem conhecidos, o casting, em sua maioria, conta com atores promissores, mas que ainda tentam se estabelecer. Como Àstrid Bergès-Frisbey que, após alguns filmes com papéis mais que secundários, dá vida competentemente à Maga, assim como o próprio Charlie Hunnan, que, após Sons of Anarchy e Pacific Rim, entra de vez pro rol de protagonistas de ação com este filme, demonstrando carisma e trabalho competente para tal “cargo”. A participação de Aidan Gillen (o Mindinho de Game of Thrones) ressalta bem como o o elenco é composto por rostos até conhecidos, mas que ainda estão galgando seus espaços no mundo cinematográfico. Aqui tenho que abrir um parênteses para a surpreendente participação do ex-jogador de futebol David Beckham no filme. Será que você consegue descobrir quando ele aparece?
Jude Law mais uma vez está em um filme de Ritchie, encorpando um pouco mais o elenco. Porém não foi de suas melhores participações e aqui está um dos defeitos do filme. O vilão não demonstra muitas camadas, nem objetivo, ele é apenas mau por querer ser o mais poderoso. Sua relação com Mordred e com seu irmão Uther chega nem a ser mal explorada, pois não é minimamente apresentada ao espectador. Seus sacrifícios para obter o “poder” parecem ser fáceis por, justamente, não construir uma dualidade em sua personalidade, o que faz de seus choros e gritos serem apenas uma encenação forçada ou overreacting do ator. Porém é algo que podemos irrelevar durante o filme, devido a outros bons personagens dentro dos amigos de Arthur.
Rei Arthur: A Lenda da Espada, apesar de parecer clichê, é uma síntese bem elaborada da jornada do herói de sempre da mitologia arturiana: a criança consagrada que perde seu destino, o herói que tem seu chamado à jornada, a recusa, a queda, o aprendizado, a volta por cima, etc. Uma história potente, vingança através da redenção com o poder edificante de sempre, aliado com um bom roteiro e uma excelente direção, traduziu-se num belo filme de ação que surpreende no atual cenário de produções cinematográficas do gênero. Uma boa pedida para você que queira sair da redoma de besteirol que regem os filmes de ação há algum tempo.