A franquia de Piratas do Caribe sempre foi algo bastante curioso. Uma atração da Disney que virou filme e ainda por cima com temáticas e efeitos bastante sombrios e ainda por cima trazendo personagens ladrões, bêbados e quase totalmente imorais. Os três primeiros filmes encerram um arco interessante e conseguem montar uma espécie de universo pirata repleto de magia. O quarto filme se baseia unicamente na figura de Jack Sparrow e fracassa, talvez pelo fato da personalidade do personagem necessitar de outras figuras para exercitar sua personalidade complexa. Agora chega um quinto filme para recuperar alguns elementos da narrativa da trilogia, enquanto ignora os eventos do quarto filme.
O filho de Will Turner deseja libertar seu pai da maldição do Holandês Voador e para isso está em busca do tridente de Poseidon, que ele acredita que pode libertá-lo. Para achar tal artefato ele busca Jack para iniciar essa jornada e acaba se juntando com Carina, que é fascinada por astronomia e deseja achar a ilha onde está o tridente para continuar o legado de seu pai (que ela nunca conheceu).
De modo geral podemos dizer que os filmes dos Piratas do Caribe se baseiam em três pilares: ação, comédia e alguma magia e/ou maldição. Este quinto filme só obtém sucesso na ação. De fato temos situações inusitadas e épicas onde a inventividade de gerar situações absurdas é realmente louvável. Até mesmo alguns conceitos de barcos amaldiçoados, batalhas marítimas e perseguições são bem legais. A batalha final gera conflitos físicos empolgantes e de modo geral o longa como um todo cumpre a função ação e aventura. Este é realmente um daqueles filmes que conseguem gerar impacto com efeitos especiais, coisa que cada vez vira mais senso comum.
A comédia falha em diversos momentos, mas muito por causa dos personagens. Jack Sparrow (interpretado pelo Johnny Depp) está muito exagerado, a ponto de suas atitudes quase não fazerem sentido na história, tudo em prol da piada no conceito errôneo de quanto mais, melhor. Se Jack se tornou um personagem amado devido a sua personalidade, vamos exagerá-la o quanto for possível. O grande problema é que não existem figuras muito interessante para ele interagir ao longa da narrativa. Henry Turner (interpretado por Brenton Thwaites) é o herói clássico e cumpre bem sua função na trama, sem brilhar muito.
Carina é a figura feminina desta história e precisamos abrir um espaço para falar especialmente dela. Ela é claramente uma tentativa de criar uma personagem feminina muito emponderada assim como diversas outras que surgiram nos últimos anos no cinema. Carina é uma cientista e, constantemente, é chamada de bruxa pelo seu interesse nos astros. A princípio essa é uma ideia sensacional, mas é muito mal executada. Para começar, ela tem todo esse interesse devido a um pai que ela não conhece, ou seja, a vida toda da personagem é baseada numa figura masculina. Sua personalidade parece uma caricatura de como um homem preconceituoso vê uma mulher emponderada: respondona, chata e sempre querendo ter a última palavra, mesmo quando não tem a mínima ideia do que está acontecendo. A finalização do arco de sua personagem é patética e todo seu emponderamento vai por água a baixo quando todas as suas ações vão sendo definidas por homens.
Salazar (interpretado por Javier Bardem) é um bom vilão apesar de ter uma origem fraca. Os efeitos visuais usados para criar o conceito do personagem são ótimos e a interpretação de Bardem está sensacional. Enquanto sua origem não é lá uma das mais satisfatórias, ao mesmo tempo temos uma espécie de origem de Jack Sparrow, que curiosamente é onde o personagem está melhor ao longo do filme.
O roteiro tem seus altos e baixos, e abusa bastante das coincidências para movimentar personagens e fazer com que determinados objetos caiam nas mãos de certas pessoas. Algumas figuras ficam bastante sub aproveitadas em detrimento dos três personagens principais. Seria injusto pedir um roteiro muito intrincado em uma franquia que nunca se propôs a isso, em comparativo aos três primeiros filmes deixa um pouco a desejar, mas, ainda assim, bem melhor do que o quarto. Vale ser visto no cinema, pois os efeitos são incríveis e a ação fica fantástica na grande tela. Dica: fique até o final para ver a cena pós créditos.