Abordando a ambição de cinco alunos de medicina em explorar o estudo do pós-morte, Além da Morte se propõe a estabelecer um suspense psicológico abordando culpa e castigo desencadeados por tal experiência. Porém o filme peca na realização de trazer um verdadeiro suspense ao espectador, que se depara com uma história superficial que pouco se atreve a falar sobre o tema chave: A morte e o que acontece depois dela. Além da Morte é um remake do não tão memorável filme Linha Mortal dos anos 1990, que contava com Kiefer Sutherland (que também está nesse filme), Kevin Bacon e Julia Roberts no elenco.
Na esperança de fazer algumas descobertas, estudantes de medicina começam a explorar o reino das experiências de quase morte. Cada um deles passa pela experiência de ter o coração parado e depois revivido. Além de uma ampliação do funcionamento cerebral que os ajudam a se destacar nos estudos, eles passam a ter visões em flash, como pesadelos da infância, e a refletir sobre pecados que cometeram. As experiências se intensificam, e eles passam a ser afetados fisicamente por suas visões enquanto tentam achar alguma solução para que sua culpa não os mate.
Com vislumbres de alguns conceitos do Livro Tibetano dos Mortos, aonde a sua própria consciência é o seu juiz no após morte, Além da Morte tem uma premissa interessante, mas é prejudicada por uma execução sofrível. Dirigido por Niels Arden Oplev, que comandou também a versão escandinava de Os Homens Que Não Amavam As Mulheres em 2009, o filme peca na construção dos personagens e de seus erros do passado, o que já compromete a experiência do suspense por justamente não termos grande empatia e evolvimento com eles. Não somos apresentados à aflição de Courtney (Ellen Page) em ter algum “contato” com sua irmã. Jamie (James Norton) é um simples estereótipo de playboy garanhão filho de pai rico. A relação de competição entre Marlo (Nina Dobrev) e Ray (Diego Luna) é feita de forma simplória. A personagem Sophia (Kiersey Clemons) é que tem sua questão com a mãe melhor trabalhada, mas ela se torna uma personagem apenas terciária na trama. Isso já faria o roteiro feito por Ben Ripley (Contra o Tempo) inconsistente, porém quando voltamos à premissa do filme o roteiro se torna incompetente.
Além da Morte é um filme que não decidiu qual rumo tomar dentro da história proposta. Como disse anteriormente, o longa flerta com alguns conceitos do Livro Tibetano dos Mortos, mas executa isso de forma confusa. Não assume se é algo na mente deles que foi despertado devido à experiência de quase morte, causando alucinações relacionadas às suas próprias culpas, ou se há alguma entidade mística que resolve punir a audácia dos estudantes de brincar com a morte; até porque há outras pessoas no próprio filme que já passaram por tais experiências de quase morte e não tiveram tais alucinações. Fica tudo muito presunçosamente confuso, como se o roteirista solucionasse a questão com o clichê “deixe o espectador tirar suas próprias conclusões”, tentando se isentar de qualquer resposta sobre a vida após a morte, mas sem oferecer conteúdo para que conclusões e reflexões possam acontecer pelo espectador. E, no fim, traz a mensagem piegas de que a culpa é algo que a própria pessoa carrega, e que, para se viver livre dela, devemos aprender a perdoar a si mesmo. Uma mensagem final pretensiosamente bonita, remendada por diversos problemas de execução de roteiro, direção e narrativa. O que nos faz pensar sobre o propósito de produzirem um remake fraco de um filme que originalmente já não tinha sido tão bom.
Foi necessário uma leve pesquisa para saber que Além da Morte era um remake de Linha Mortal, um filme mediano de Joel Schumacher, que não marcou sua época. O que nos faz refletir sobre esse excesso de remakes nos cinemas. Há tempos se discute sobre a pouca criatividade de Hollywood, já que anualmente estamos sendo bombardeados com inúmeros remakes, reboots e continuações de obras do passado. Talvez quem esteja pensando atualmente o cinema na grande indústria não seja a pessoa (ou as pessoas) mais indicada. Pode ser porque a fonte da criatividade secou e apenas algumas poucas mentes brilhantes são capazes de inovar e criar neste universo fechado, ou porque seja uma industria tão presa em dólares e números que apenas repete algumas fórmulas que já fizeram sucesso no passado, apostando que trará lucros novamente. Não é a toa que vivemos a moda da nostalgia dos anos 80 e 90 nos cinemas, com remakes e produções que não só resgatam o tema que já foi abordado no passado, como também o próprio ambiente e sociedade de décadas atrás. Se contabilizarmos o número de sequência e remakes em 2017 o número chega a 38 longas no grande circuito. O que talvez seja um sinal de que pelo menos há algum retorno financeiro. Mas quando até alguns filmes inexpressivos passam a ganhar seu remakes ruins, um alerta vermelho deve ser acionado.
E nada melhor do que um alerta vermelho para encerrar o texto sobre Além da Morte. Um filme que não consegue construir algum medo ou suspense verdadeiro e acaba apelando para alguns “jumpscares” para trazer alguma emoção ao espectador. Emoções estas que se encerram no mesmo momento em que o susto acaba.
Apesar de uma premissa promissora, o filme peca na execução da direção e na superficialidade narrativa e conceitual para a trama que se propunha a desencadear. Perdendo-se dentro da proposta do “fazer por fazer” que habita muitos filmes de Hollywood.