Tijolômetro – Angel’s Egg (1985)

No que diz respeito à criatividade, as animações japonesas são referência há décadas. Em 1985, dez anos antes do emblemático Ghost in the Shell (1995), o diretor Mamoru Oshii lançava o enigmático Angel’s Egg (Tenshi no Tamago). Agora, em comemoração ao aniversário de 40 anos desse clássico cult, a obra retorna aos cinemas restaurada em 4K.
Nessa trama repleta de simbolismos, acompanhamos uma menina que protege um ovo gigante em meio a um cenário devastado pela água. Enquanto se abriga em ruínas, a jovem se depara com um homem misterioso carregando uma espécie de cruz. A partir desse encontro, a fé da garota e o propósito de sua missão serão postos à prova.
É preciso começar alertando que Angel’s Egg não é um filme para todos os públicos. Isso se deve ao fato de que o roteiro e a direção de Mamoru Oshii não se propõem a contar uma história que tenha um significado explícito. A prioridade do longa é conduzir os espectadores por uma jornada contemplativa onde as emoções e sensações são mais importantes que o entendimento lógico.
Com isso em mente, a produção não necessita de muitos diálogos. A trilha sonora marcante se encarrega de acompanhar a animação do artista Yoshitaka Amano por cenários sombrios, submersos e desolados, que causam a sensação aflitiva de solidão e abandono. De certo modo, essa ambientação pós-apocalíptica e sem falas se aproxima muito de Flow (2024), outra animação repleta de significados ocultos.
No caso de Angel’s Egg, as poucas cenas em que os protagonistas conversam dão a única pista sobre o que estamos vendo na tela. Por meio de elementos religiosos, nasce a ideia de que a humanidade foi abandonada. Isso é reforçado pela figura dos pescadores que caçam inutilmente peixes feitos de sombras, como se perseguissem fantasmas do passado.
Nesse momento, percebemos o embate entre a fé da menina — em algo que ela sequer sabe definir — e a descrença do homem misterioso. O que podemos extrair desse confronto de convicções é que se inicia o amadurecimento da criança, seguido pelos indícios de um recomeço para ambos os personagens.
Ao final da projeção, a única certeza que fica é a de que cada um interpretará Angel’s Egg de forma particular. Por um lado, a ausência de respostas concretas pode incomodar uma parcela do público. No entanto, a liberdade de entender e, principalmente, sentir o que foi visto — sem se prender a definições de certo ou errado — é o que torna a experiência de assistir a esse clássico algo singular até mesmo para os padrões dos animes.
Assista ao trailer:
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