É notório o fato de que os filmes de ação são muito subestimados e, apesar de se apresentarem as mais diversas justificativas para tal rebaixamento do gênero Ação, todas elas convergem para um mesmo ponto: o gênero Ação é o extremo oposto do cinema-arte, haja vista que, segundo os que criticam o gênero, os filmes de Ação nada mais são do que caça-níqueis que bombardeiam o expectador sonora e visualmente, dando a ele uma trama “mais do mesmo” que sempre passa pelos mesmos clichês, como perseguições de veículos, lutas coreografadas, e chuvas de tiros que nunca acertam o protagonista. No entanto, se os críticos dos filmes de Ação derem a si mesmos a oportunidade de assistirem Missão Impossível: Efeito Fallout, o sexto filme da franquia, eles irão se deparar com um filme de ação com uma boa performance dos atores, cenas de ação diferentes do que se costuma ver em outros filmes do gênero, e principalmente um roteiro que instiga a curiosidade do expectador.
O grande responsável por todos esses “temperos” citados acima, que fizeram de MI: Efeito Fallout um excelente filme (talvez o melhor da franquia até aqui), foi o diretor Christopher McQuarrie. Depois da experiência adquirida no filme anterior da franquia, Missão Impossível: Nação Secreta, McQuarrie apostou pesado no elenco: Tom Cruise que, com seus 56 anos, dispensa novamente os dublês pra protagonizar cenas de ação de tirar o fôlego (as cenas do helicóptero que o digam!); a britânica Vanessa Kirby no melhor estilo das femme fatales dos filmes noîr; Sean Harris voltando à pele do vilão Solomane Lane, com uma pitada a mais de loucura do que no filme anterior; e Henry Cavill, que levantou o hype de MI: Eefeito Fallout antes mesmo da estréia do filme, pois à época das gravações de Liga da Justiça, o ator já tinha firmado compromisso via contrato com os produtores de MI: Fallout, sendo que o contrato em questão tinha uma clásula que impedia que o ator raspasse o bigode, rendendo uma tsunami de memes do “Superman de bigode”. Em Liga da Justiça, o bigode de Henry Cavill teve de ser removido por computação gráfica, o que rendeu algumas caras e bocas tortas de Superman, além de outra enxurrada de memes…
Curiosidades à parte, outro acerto de McQarrie foi a fotografia. Temperando as cenas de ação com cenários deslumbrantes de cidades como Paris e Londres, o diretor também incluiu na lista penhascos rochosos e gelados para as cenas de ação (lembre-se dessa informação se você tem medo de altura). Do mesmo modo, o diretor prestou tributo às clássicas cenas de filmes noîr dos anos 50, em que o protagonista confronta a femme fatale numa festa de luxo.
A trilha sonora ficou sob a responsa de Lorne Balfe, que tem no currículo trilhas como The Lego Batman Movie e Kung Fu Panda 3. Deu pra ver, ou melhor, ouvir ecos da influência de Hans Zimmer no trabalho de Balfe: a partir da frase musical mais famosa (“Pam!… Pam!… Pam-Pam-Pam! … Pam!”), usava-se um outro compasso mais lento, ou enxertava-se uma ou outra melodia, fazendo versões do trecho original. Não é uma inovação, é verdade, mas funcionou no filme.
O grande gatilho, ou melhor, o rastilho de pólvora que faz o filme ser realmente bom, é a trama. Aproveitando elementos dos filmes anteriores, como o vilão do filme anterior e o passado de Ethan Hunt misturando-se à missão, Ethan aceita à contra-gosto a colaboração do agente da CIA August Walker (Henry Cavill) para impedir que Os Apóstolos, a suposta “seita” de Solomon Lane (Sean Harris), agora preso, explodam três artefatos nucleares em sabe-se lá que lugares do mundo. A sinopse aparentemente simples toma reviravoltas ao longo do filme que prendem a atenção do espectador. A briga de egos entre a IMF e a CIA, encarnada por Ethan e Walker; o “desmascaramento” de personagens como gatilho para (mais de um) plot twist, e as menções sutis a filmes anteriores da franquia fazem o roteiro funcionar muito bem, tudo isso com o tempero do alívio cômico característico de Simon Pegg.