O filme O Mistério do Relógio na Parede é uma adaptação do homônimo livro escrito por John Bellairs, um conto infantil com muita magia, humor e uma dose de terror na medida cabível. Dirigido por Eli Roth, conhecido por filmes de terror “gore” como O Albergue, o longa consegue manter o espírito do livro com uma história humorada, infantil com bons momentos assustadores, porém pouco ambiciosa.
O Mistério do Relógio na Parede conta a história de Lewis (Owen Vaccaro), de apenas 10 anos, que acabou de perder os pais e vai morar em Michigan com o tio Jonathan Barnavelt (Jack Black). O que o jovem não tinha ideia é que seu tio e a vizinha da casa ao lado, Sra. Zimmerman (Cate Blanchett), são, na verdade, feiticeiros. Neste ponto Lewis passa a conviver com uma realidade totalmente diferente, uma nova casa mágica, novos amigos, e um mistério que anda pelas paredes.
Situada no pós-guerra o filme remonta bem a década de 50, figurinos, cenários e a própria fotografia do filme estão muito bem alinhados não só com a época mas com a própria trama levemente sombria do filme. E o que mais foge à regra é a paleta de cor roxa da Sra. Zimmerman, que apesar de carregar uma cicatriz no seu passado é tão radiante quanto sua cor preferida. Falar que Cate Blanchett vai bem no filme é quase chover no molhado, mas foi interessante vê-la num papel cômico numa pegada infantil. Já Jack Black esbanja o carisma de sempre, mesmo sem ser exigido dramaticamente. Isto posto, há de convir que o filme aposta muito mais na relação desses personagens com o menino Lewis do que o mistério que surgia nas paredes da casa.
O roteiro se apega a gatilhos e clichês para desenvolver sua história sem muito explicar. O amiguinho bulling, a chave escondida, a vizinha disfarçada são típicos elementos daqueles filmes infantis da sessão da tarde, e o filme não teve pudor em usá-los. Ainda bem, essa era a intenção realmente. E algumas questões importantes foram atropeladas sem muita decência: a relação do tio Jonathan com os pais de Lewis, ou a própria origem da magia ou como as pessoas comuns a vê (pois parecem que os moradores da cidade sabem da existência de algo mágico na casa). São alguns problemas que pela própria leveza do filme deixamos passar.
Se realmente o espectador levou a criançada aos cinemas para assistir, parece-me que ele terá que bater um papo com aquelas que ficaram mais assustadas. Pois apesar do clima leve como o vento do longa, há cenas realmente assustadoras, como os brinquedos assassinos, o zumbi, e o próprio mestre do antigo dono da casa. Que só pelo nome já sabemos do que se trata: Pazuzu. Nesse ponto vemos um pouquinho do dedo do diretor formado em filmes de terror. Porém na medida certa para assustar as crianças e assim elas terem o mesmo medo que o protagonista teve para vencer o seu desafio.
O Mistério do Relógio na Parede, mesmo usando clichês básicos do gênero, cumpre o que propõe usando um elenco carismático e uma trama bem-humorada, infantil e sombria na medida certa para o seu público alvo. Preenche bem aquela tarde como nas antigas Sessão da Tarde.