O Quarto de Jack é inspirado no livro de sucesso da autora e roteirista do filme Emma Donoghue, e como o próprio título diz, a história é sobre Jack (Jacob Tremblay) e seu quarto. Este cômodo é entendido por Jack como se fosse o seu mundo, seu todo mundo, e que só existiam aquelas coisas que haviam ali, em seu quarto: A cama, a pia, a TV, a banheira, o seu armário e, também, a sua mãe. O filme poderia ser sobre sua mãe, Joy, de 22 anos. Uma mulher que fora raptada aos seus 17 anos e desde então mantida em cativeiro por seu raptor e violentador, O Velho Nick (Sean Bridgers). Mas sem querer ser repetitivo, o filme é sobre Jack, o fruto de um estupro precedido e prosseguido por vários outros nesses 5 anos de cativeiro de Joy.
Começamos a acompanhar a história, exatamente no dia do quinto aniversário do menino. Com intuito de preservar Jack dessa realidade revoltante, Joy, interpretada por Brie Larson (ganhadora do Oscar 2016 de Melhor Atriz), inventa uma realidade alternativa para que Jack se contentasse com sua subsistência em seu minúsculo e limitado mundo onde havia nascido e crescido, já que não havia como sair daquele cativeiro com trancas elétricas e uma clariboia.
Diariamente, quando o Velho Nick fazia aquela “visita” à noite, Joy escondia o menino no armário, como se fosse um ritual, para que Jack não tivesse contato com essa realidade degradante e repugnante em que ela vivia. Porém, ele já estava crescendo e se indagando de sua própria realidade, duvidando das coisas de seu mundo de fantasia criado por sua mãe.
De forma delicada o filme dirigido por Lenny Abrahamson (de Frank, 2014) aborda um tema tenso e dramático pelos olhos de um menino inocente. O Quarto de Jack causa incômodos e ansiedades cataclísmicas, como na tentativa de fuga de Jack em um plano mirabolante, e nos faz refletir até em um sentimento que é difícil de explicar, quando ele quer voltar e ver seu antigo mundo e perceber que aquilo ficou pequeno e sem graça. Sim, como disse anteriormente esse filme é sobre Jack.
Um ponto muito interessante do longa é justamente o pós fuga do cativeiro. Todo drama e abalo psicológico envolvido na reinserção de Joy e Jack na “vida real”: Os momentos perdidos, a família destruída, a rejeição de seu pai por Jack, seu neto concebido através de estupro. Fases que em outros filmes do gênero não chegam a tocar, o sentimento por ter sua vida roubada e verificar que todos seguiram suas vidas mesmo sem você, apesar da dor que sentiram. Se deparar com a realidade fora do cativeiro onde estava desde sua adolescência mantida aprisionada é realmente intenso e difícil de superar, e o longa-metragem transmite bem essa ideia. E além de tudo isso, ter seu drama individual diminuído por Jack, a criança, pois para a sociedade ele é a principal vítima – isso fica evidente na cena da entrevista – Tudo isso são coisas que Joy tem que realmente lidar mesmo sem nenhum preparo para isso.
Sei que citei várias vezes que esse filme é de Jack, mas a protagonista é a Joy. O Quarto de Jack acerta em adaptar e transmitir as mensagens de um tema tão pesado e difícil como é o drama vivido por Joy. Principalmente por abordar a questão na visão do menino mas sem esquecer do sofrimento da mãe. Excelente filme.