Passageiros é uma história de romance com o pano de fundo de ficção científica, dirigida pelo cineasta norueguês Morten Tyldum. O longa-metragem estrelado por um casal de atores carismáticos que, através de seus personagens, vivem um drama romântico, simples e repleto de clichês dentro da nave Avalon, escrito por Jon Spaihts.
A nave Avalon transporta 5.000 passageiros para o planeta já habitado por humanos Homestead II, em uma viagem de 120 anos de duração. Os colonos e toda a tripulação estão em estado de suspensão de vida dentro de seus compartimentos de hibernação. Mas quando a nave passa por um grande campo de asteroides, o escudo defletor é exigido em um nível anormal, causando diversos mal funcionamentos na nave, que são reparados automaticamente pelo sistema. Porém um compartimento de hibernação é comprometido, despertando o passageiro Jim Preston (Chris Pratt) de seu estado de hibernação 90 anos antes do destino final.
Após se dar conta do ocorrido, Jim, em vão, tenta diversas maneiras de voltar a hibernar. Com a certeza de que não sobreviveria aos 90 anos de viagem ainda a percorrer, e sem nenhuma companhia – exceto pelos robôs garçons, faxineiros e também o barman androide Arthur – Jim cogita até o suicídio após 1 ano de solidão. Porém quando se depara com o compartimento de hibernação de Aurora Lane (Jennifer Lawrence), uma grande vontade e esperança volta a inundar seu coração, criando um grande questionamento moral em sua mente.
Uma curiosidade que desperta no espectador durante o filme é conhecer essa realidade que nos é apresentada, já que a humanidade evoluiu ao ponto de ser capaz de fazer uma viagem de 120 anos pelo universo. O planeta Terra se encontra altamente evoluído e é conhecido como o berço da humanidade. Parece não haver grandes problemas, sem nenhuma brecha para um futuro apocalíptico ou distópico tão comuns, na verdade essa realidade está mais para utópica do que distópica. O pouco do que é mencionado da Terra faz parece que é um mundo sem conflitos e perfeito, onde o que está defeituoso é prontamente substituído pelo novo. Motivo este que leva Jim, um engenheiro mecânico especializado em consertar e construir coisas, tentar um novo rumo à sua vida indo para o distante planeta Homestead II, já que neste planeta, a pouco tempo habitado e ainda muito mais arcaico do que a Terra, ainda há coisas a serem feitas e construídas.
O filme de forma sutil também revela que apesar de um futuro teoricamente utópico como citado anteriormente, algumas coisas ainda não evoluíram em certos sentidos. Um dos exemplos que elencarei aqui para corroborar com esta afirmação é o aparente domínio de corporações neste mundo. A empresa Homestead que, além de ser a proprietária do luxuoso cruzeiro espacial Avalon, controla e comercializa a chance de uma nova vida em outro planeta, do qual é dona e leva o seu próprio nome. Isto até me fez lembrar vagamente os comerciais da mesma oportunidade oferecida na Los Angeles de Blade Runner, apesar de notórias diferenças contextuais não só com relação à corporação Tyrell e Homestead, mas também da grande diferença de propostas dos filmes.
Um outro exemplo de que este futuro não é tão perfeito assim são as diferentes classes e privilégios dos viajantes. Onde alguns possuem a pulseira vip, mais cara e capaz de conseguir o melhor café da manhã disponível, e a pulseira básica, onde o café se resume ao líquido e um simples pão. De qualquer forma esta viagem não seria para qualquer pobretão, o que nos faz imaginar quantas pessoas na Terra estariam privados de alcançar esta oportunidade de uma nova vida. Ou seja, as tão conhecidas diferenças de classes sociais ainda existem neste futuro utópico, que, por este ponto de vista, não é tão utópico assim. Porém essas nuances passam quase que despercebidas durante o longa-metragem que se foca inexoravelmente ao romance do casal.
Passageiros possui um roteiro básico e previsível, quase de um filme de romance adolescente. A química do casal de atores tão carismáticos é aparente, porém insuficiente para transformar o longa em coisa melhor do que um filme fraco. A esperada decepção de Aurora quando descobre como foi despertada cria até uma leve expectativa do que possa acontecer, porém essas expectativas são dizimadas com a superficialidade das cenas seguintes, e da inclusão de um personagem que ajudará os dois a resolverem os problemas fatais da nave. O personagem de Lawrence Fishburne, o tripulante Gus Mancuso, pode ser comparado a uma canetada pífia dentro do roteiro. Ele está ali apenas para resolver os problemas do casal, da nave e da sonhada pulseira de alto nível para que tudo ficasse redondo para um final feliz. Um triste uso para três atores tão talentosos.
Nem a suposta ficção científica envolvida na produção cria algo realmente atraente ao espectador, que, apesar de ver algumas cenas de efeitos especiais interessantes nos takes por fora da nave, fica esperando por novidades ou curiosidades na tecnologia de Avalon ou pelo menos da viagem espacial, porém nada encontra – sério, as ideias mostradas naquela nave são dignas da rebocadora Nostromo de Alien, O Oitavo Passageiro de 1974.
A principal questão do filme, o questionamento moral de Jim na dúvida em despertar Aurora de sua hibernação, é fraca e rápida. A consequência e culpa de condená-la a uma vida enclausurada dentro de uma nave por egoísmo é realmente patética. Apesar da tentativa de flertar com a condição do ser humano em ser um indivíduo que necessita de socialização, é tudo muito simples e perfeito – seria mais interessante se o casal brigasse e um deles despertasse algum outro passageiro para esquecer ou se vingar do outro. Enfim, um blockbuster fraco.