Um documentário sobre balé num site “nerd”. Qual o sentido disso? Se você pensar muito a fundo, quase nenhum, mas os bons documentários sabem construir uma boa narrativa e Reset é um desses casos. O balé no cinema sempre é retratado como algo sofrido e necessita de treinamento intenso a ponto de levar à loucura as dançarinas e dançarinos. Cisne Negro, Billy Eliot e até a recente série Flesh and Bone mostram as dificuldades absurdas daqueles que desejam entrar no mundo do balé. Reset chega para quebrar esse paradigma com um documentário divertido e com boas doses de emoção.
Sinopse: O documentário retrata o renomado coreógrafo e dançarino Benjamin Millepied (mais conhecido por coreografar as sequências de dança no filme “Cisne Negro”) e como ele tenta rejuvenescer o Paris Opera Ballet em sua nova posição como diretor, onde o foco é o processo criativo dos ensaios do espetáculo Reset, coreografados por ele. Com as aparições do compositor Nico Muhly, da ópera Aurélie Dupont, da designer Iris van Herpen e da atriz Natalie Portman (esposa de Benjamin).
Logo de cara eu preciso dizer: esse documentário é absurdamente bem filmado. Thierry Demaizière e Alban Teurlai estão de parabéns pela extrema capacidade de fazer você esquecer que está vendo um documentário. No início do filme eu achei que estava vendo um filme, mesmo sabendo que não era, e só sai dessa “ilusão” quando Benjamin olhou diretamente para a câmera e sorriu. Aliás, é preciso dizer que grande parte da graça deste filme é o grande carisma de Benjamin, que faz uma conexão direta com o espectador. É muito difícil não torcer por ele ao longo da construção da coreografia e preparação do espetáculo que ele quer apresentar. Mesmo entendendo muito pouco de balé é possível apreciar essa pequena saga de uma pessoa que deseja realizar um sonho.
A mensagem geral por trás do documentário também é bela: o poder transformador da arte. Benjamin não deseja fazer um espetáculo de balé, e sim mudar o conceito de que ser bailarina é uma tarefa sofrida e exclusivamente para pessoas brancas. Sua missão é trazer mais dança contemporânea para o balé clássico e quebrar as hierarquias entre professor e alunos.
O único defeito do documentário é ser longo demais. Ele tenta contar a história dia por dia e por vezes isso se torna um tanto maçante, já que nem todo dia acontece algo verdadeiramente interessante. Mas tudo acaba compensando no final quando temos a finalização desta pequena saga. A montagem final e a direção do fim deste documentário são impecáveis e uma pérola da arte de dirigir e editar cenas. Certamente depois de Reset você sairá entendendo mais de balé e respeitando mais essa forma de arte.