Em 2013 tivemos um filme argentino chamado aqui no Brasil de “Não Aceitamos Devoluções” que foi um sucesso internacional devido a seu belo roteiro e senso de humor leve. Acompanhamos a jornada de um pai baladeiro que um belo dia recebe uma mulher em sua porta dizendo que ele é pai enquanto deixa uma criança em seu colo. Assim ele acaba se tornando um ótimo pai e extremamente apegado a sua filha, até que a mãe retorna anos depois exigindo a custódia de volta. O cinema francês pegou esse conceito e fez uma refilmagem que já esta nos cinemas brasileiros para seu deleite.
“Uma Família de Dois” é dirigido por Hugo Gélin que é extremamente ágil em sua direção, fazendo a câmera passear pela cena quase como se flutuasse de um lado para o outro. Ele consegue resolver um primeiro ato complicado, pois envolve passagens de tempo longas e uma atrás da outra, com uma naturalidade incrível. Algumas de suas transições de cenas são extremamente inventivas e alguns enquadramentos arrancam belezas sutis. Quando precisamos desacelerar o ritmo para o drama ele consegue ser sutil, belo e tranquilo. O mais interessante é que o roteiro lhe permite colocar cenas de ação no meio desta ótima comédia, que nos faz pensar como Hugo se sairia dirigindo um filme de ação. Ele não tem muitas obras famosas no seu currículo, mas este filme vai te fazer querer ir atrás de seus trabalhos anteriores.
O roteiro é escrito por oito pessoas, incluindo alguns dos roteiristas do original mexicano. A história é extremamente leve em seu início. Seu primeiro ato e o início do segundo chegam a ser idílicos, a fantasia infantil do pai perfeito. Aliás a temática do filme é justamente sobre isso. Como nossos pais podem ser heróis para nós quando somos pequenos. Não venha para essa película esperando problematizações da relação entre pais e filhos, ou qualquer coisa do gênero. Venha esperando ver o pai idealizado que está disposto de tudo pela sua filha amada. Ainda por cima temos reviravoltas, uma virada para o drama (ainda que leve) e um fechamento belo. Talvez a única coisa que abaixe a nota deste filme é uma pequena enrolação no final do terceiro ato, que prolonga o filme um pouco mais do que deveria, mas nada fatal. Ainda por cima consegue fazer boas brincadeiras com as diferenças culturais entre franceses e ingleses, mas nada no estilo “crítica social”, afinal esse é um filme leve.
Como protagonista temos o incrível ator Omar Sy que fez sucesso mundial com o filme “Os Intocáveis”. Seu carisma é arrebatador e é impossível não se afeiçoar a seu personagem até o fim, mesmo quando ele está fazendo coisas erradas. Existem poucos atores tão carismáticos quanto Omar. Ele tem um tom cômico perfeito para esse filme, mas consegue mergulhar no drama quando é necessário, fazendo lágrimas correrem. Mas ele não está sozinho. Temos um trio sensacional composta pela atriz mirim Gloria Colston que consegue ser tão carismática quanto Omar. Para fechar o trio temos o ator Antoine Bertrand que faz o melhor amigo dos dois, sendo um alivio cômico dentro de um filme de comédia, algo que poderia ser um enorme exagero, mas sai de forma perfeita. A antagonista, por assim dizer, é a atriz Clémense que faz o papel da mãe que abandonou o bebê e retorna anos depois. Clémense caminha por uma linha complicada entre ser a antagonista, mas nunca cai no papel de vilã odiosa ou qualquer coisa do gênero.
Esse é uma definição de filme alto astral, até mesmo quando cai no seu lado dramático. É o melhor estilo sessão da tarde e isso é um grande elogio, pois um filme sessão da tarde é daqueles que você irá ver várias vezes sem cansar e poucos filmes possuem esse poder. Para qualquer um que convive com crianças e o universo infantil vai se sentir tocado e se conectar com o drama do personagem de Omar. Uma criança pode entender mais o lado de seus pais através desta história e todos podem se emocionar. Talvez uma das obras sobre paternidade mais belas dos últimos anos.