A adaptação da light-novel em mangá e posteriormente em animação Kaifuku Jutsushi no Yarinaoshi realmente não passou despercebido no mundo dos animes em 2021. A história escrita por Rui Tsukyio é tanto polêmica quanto sedutora. Acompanhamos a busca por vingança de Keyaru contra seus desprezíveis algozes – a vingança por si só é uma premissa um tanto batida no mundo pop, mas a forma como vivemos a angústia do protagonista e como ele age para se vingar em sua “segunda vida” é o diferencial do anime, e no meio disto somos inundados com cenas violentas e – muito – eróticas de seu habilidoso alter-ego Keyarga-sama.
A primeira temporada contou com 12 episódios que adaptam os 3 primeiros volumes da light-novel. O anime conta com uma excelente produção da TNK, com uma arte de boa qualidade com coreografias e efeitos de lutas e magias muito satisfatórias. Nas cenas de sexo a qualidade da arte também é notável, mostrando muito mais do que um simples “seinen ecchi” que estamos acostumados a encontrar por aí. Porém, Kaifuku não é só isso. A história é interessante e há personagens intrigantes que despertam no espectador sensações variadas e que podem gerar um certo conflito sentimental pela obra.
Em sua versão sem censura Kaifuku mostra o porquê de ser passível da mesma em algumas praças e nichos por aí. E isto fica claro em todos os episódios. Não só pelas cenas de sexo explícito (que apenas não mostram as genitálias), mas por todo o peso dos atos dos personagens que vemos em tela já no primeiro episódio. Abuso, aproveitamento, vício, estupro, escravidão… coisas chocantes acontecem em um mundo de fantasia medieval habitado por humanos e criaturas mágicas/demoníacas. E Keyaru é submetido à torturas físicas e psicológicas para que seu poder de cura recém descoberto possa servir aos propósitos do Reino de Gioral e seus heróis.
Com a possibilidade de voltar ao passado e viver a mesma vida novamente, compramos a saga e a sede de vingança do nosso protagonista, mas ao mesmo tempo ficamos em choque quando percebemos a dualidade que Keyaru tem: redenção x vilania. E isto nos deixa em conflito, pois sua sede de vingança proporciona atitudes dignas de um vilão do mais baixo calão, e ele não hesita em aplica-las em pessoas que, narrativamente, são merecedoras dos castigos mais severos.
E no prisma atitudinal do nosso protagonista temos manipulação, assédio, objetificação, assassinatos… rola até canibalização de personagem provocado pela influência de Keyaru, tudo acompanhado de gargalhadas malignas saboreando suas vinganças. E,ao mesmo tempo que isto acontece, há momentos em que Keyaru demonstra um certo lado que ainda é humano, se importando com outras pessoas. Não sabemos ainda se acompanhamos uma história de um vilão ou um anti-herói, e isso claramente mexe com o espectador que acaba não só adentrando no seu drama, como também no mundo fantástico de Kaifuku Jutsushi no Yarinaoshi, querendo saber o quanto essa jornada de vingança afetará e modificará a alma do nosso polêmico protagonista.
Ainda não há confirmação de uma segunda temporada, mas com as boas vendas do mangá no Japão as chances de uma nova leva de episódios são promissoras e já tem uma cobrança online de uma base de fãs para tal. Um anime polêmico e, ao mesmo tempo, interessante, mas talvez não seja uma boa ideia assisti-lo em público.
[authorbox authorid=”2″ title=”Crítica por:”]
-
Nora