Escrito por Adriana Falcão, A Máquina é um livro curto, mas que pede uma leitura lenta. Assim como as coisas boas da vida, deve ser apreciado com calma, como se cada minuto de leitura durasse um pouco mais do que o normal. Quando isso acontece, o leitor é presenteado com uma história cativante e criativa sobre o amor e o tempo.
Em Nordestina, uma cidade fictícia e quase deserta, Antônio é apaixonado por Karina, que sonha em sair dali para “conhecer o mundo”. Em nome desse amor, ele promete trazer o mundo até ela. Ele, que sempre se considerou muito amigo do tempo, tem então a ideia de construir uma máquina com diversas lâminas giratórias da morte. Com ela, pretende viajar alguns anos no futuro e não duvida que sua invenção trará o mundo direto para Nordestina. Caso falhe, a alternativa será a morte.
Assim como outras obras que colocam a cultura nordestina em destaque, como O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, A Máquina faz uso da linguagem coloquial, do ritmo ágil e de expressões do cotidiano. Além disso, percebe-se também a influência da literatura de cordel em alguns diálogos com rimas, humor e lirismo.
Esses elementos tornam a escrita da autora tão fluida que geram uma espécie de “sonoridade” envolvente, o que torna a leitura ainda mais prazerosa. Desse modo, não chega a ser estranho ler qualquer trecho em voz alta e perceber o ritmo literário diferenciado da obra. Inclusive, não é surpresa descobrir que a história – primeira publicação de Adriana – foi adaptada para o teatro e para o cinema anos depois.
Outro aspecto que se destaca é o uso criativo da metáfora. É por esse motivo que o tempo não assume aquele aspecto mais técnico da ficção científica, mas funciona como símbolo de esperança e transformação — da vida, do amor e da cidade. Por isso, é incrível como a proposta de viajar para o futuro convence mesmo sem o uso de tecnologia avançada, especialmente nesse universo em que o realismo e a fantasia convivem com naturalidade.
Sobre o elemento fantástico, vale ressaltar como as ilustrações de Fernando Vilela contribuem para esse tom poético e lúdico da narrativa. Com um traço simples e expressivo, sua arte amplia o imaginário da história e reforça o clima de fábula criado pela autora, um detalhe que contribui ainda mais para a imersão na história.
Sem sombra de dúvidas, A Máquina é um livro que merece ser lido e apreciado nem que seja ao menos uma vez, mas acima de tudo sem pressa. Afinal de contas, trata-se de uma história tão rica em seu conteúdo e forma que nem mesmo o próprio tempo, quem diria, pode fazê-la cair no esquecimento.
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