Tijolômetro – Nyad (2023):
Filmes baseados em fatos reais sempre tiveram um lugar cativo nas principais categorias do Oscar. Esse é o caso, por exemplo, dos indicados Maestro, Oppenheimer e também de Nyad que é mais uma adição disponível no catálogo da Netflix que disputa a maior premiação do cinema. No entanto, mesmo com atuações intensas e o fato de ser tecnicamente bem executado o longa peca em caminhos desnecessários da narrativa que, por sua vez, atrapalham a experiência como um todo.
Com base no livro de memórias “Find a Way” (2015), de Diana Nyad, o filme narra um momento importante da carreira da atleta que em 2011 aos 60 anos desafiou as probabilidades de se tornar a primeira pessoa a completar uma viagem de 161 km em 53 horas, de Cuba à Flórida em pleno alto mar. Auxiliada por Bonnie Stoll (Jodie Foster), sua melhor amiga, e uma equipe de 35 apoiadores dedicados, Nyad (Annette Bening) pretende nadar através de águas-vivas venenosas e águas infestadas de tubarões para completar sua missão, ultrapassando todos os limites e mostrando sua capacidade para os que duvidaram dela.
Com uma perfeita composição de personagem aliada a uma grande transformação física, principalmente da protagonista, Nyad comprova seu mérito nas indicações de Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante. Isso ocorre por conta do nível de comprometimento encontrado nas performances de Annette Bening e Jodie Foster de várias formas, incluindo pequenos detalhes como na forma de falar e olhar de suas personagens. A direção também acerta ao focar no talento dessas excelentes atrizes dando-lhes a oportunidade para desenvolver seus papeis e mostrar o potencial de sua capacidade dramática, principalmente considerando a relação amorosa e ao mesmo tempo conflitante entre elas.
Outro grande acerto do longa está nas diferentes formas de retratar o caminho percorrido pela nadadora. Há ângulos de câmera bem próximos e diferentes que vez ou outra balançam criando uma sensação vertiginosa. Em outras palavras, é como se estivéssemos ao lado de Diana a cada braçada no mar, percebendo suas dificuldades de respirar e manter a noção de realidade. Com isso, a experiência fica mais interessante pois facilita o processo de imersão do público acompanhando todos os obstáculos dela em realizar essa meta considerada por muitos especialistas como impossível.
Apesar dos pontos positivos na parte técnica e de atuação, o filme perde tempo demais com seu excesso de informação, o que desconecta o público da história que está sendo contada. Isso provavelmente se deve ao fato da dupla de diretores Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhelyi ser mais experiente com documentários tendo inclusive no currículo uma produção desse gênero vencedora do Oscar: Free Solo (2018). Por isso, não é novidade a inserção de imagens de arquivo e reportagens da época para contextualizar o espectador, o que é bom de início por vermos a verdadeira Diana Nyad mas que logo incomoda pelo tempo que ocupa em tela.
Além disso, outro ponto que pesa contra o longa é fato de não abordar nenhuma polêmica relacionada a história real da atleta e sua aventura. Segundo matéria da BBC News existem lacunas nos registros da equipe dela, o que fez com que seu recorde não fosse ratificado oficialmente pela Associação Mundial de Natação em Águas Abertas. Inclusive, o Guinness World Records também anulou o reconhecimento. Desse modo, fica a dúvida se a obra cinematográfica não ganharia uma nova faceta ao lançar um olhar de questionamento sobre sua protagonista.
Independente disso, Nyad funciona no que se propõe, uma história de superação que emociona e nos faz torcer pela realização de um sonho dado como impossível para uma mulher com a idade dela. Mesmo com seus pontos negativos e uma falta de ousadia que faria diferença no todo, o drama funciona por conta de suas atrizes talentosas que fazem a experiência valer a pena.
Assista ao trailer:
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