A chamada Era da Aventura dos quadrinhos teve início por volta dos anos 30, e as histórias de personagens daquela época eram publicadas de forma fragmentada, em tirinhas, que saíam diária ou semanalmente nos jornais, trazendo ao público as aventuras de personagens como O Fantasma, Zorro e Flash Gordon. Eram tramas carregadas de elementos de fantasia, histórias de detetive, cenários noir, donzelas em perigo e vilões carismáticos com suas risadas maléficas. Integrando o Panteão dos heróis da Era da Aventura está também o mais famoso mágico combatente do crime: Mandrake, criado por Phill Davis e Lee Falk. Em suas aventuras, o mágico usa e abusa de sua teatralidade, astúcia e ilusão para solucionar mistérios e proteger inocentes, sempre acompanhado de Lothar, um africano de força física extraordinária, e da Princesa Narda, que desempenha o papel de par romântico do herói.
Recentemente, a Pixel Media (selo da Ediouro) tem reeditado várias histórias de Mandrake, com excelentes tiragens tanto em brochura quanto em capa dura, cada uma contendo uma ou mais histórias do mágico herói. A primeira dessas histórias de Mandrake com a qual este redator medíocre teve contato foi no volume que contém as histórias “O Chefe”, “O Contrabandista”, e, a primeira delas, “O Mundo do Espelho”. Para conceber a trama de “O Mundo do Espelho“, Lee Falk usou uma lenda que diz que dois grandes reinos antigos estavam em guerra, e os derrotados foram condenados ao outro lado do espelho, tendo que imitar eternamente todos os gestos dos vencedores. Desde então, tudo o que os derrotados mais querem é escapar para o mundo de cá (ou de lá, dependendo da sua perspectiva).
Num quarto de hotel, Narda adormece e, instantes depois, é despertada por seu próprio reflexo (Adran), abrindo as portas para a primeira aparição do vilão Ekardnam, que é o exato oposto de Mandrake, e de seu parceiro de crime, Rahtol. É no exato momento em que Narda é raptada pelo trio e levada para o mundo dentro do espelho que a história deixa de lado seu aspecto fantasioso, fazendo o leitor tomar uma dose rascante de realismo. À medida em que acompanha Narda testemunhando casamentos que são celebrados à base de tapas por noivos que se odeiam, boas ações sendo retribuídas com grosserias de todo tipo, policiais perpetrando assaltos e acobertando crimes… O grande plano de Ekardnam era usar, em larga escala, um spray desenvolvido por ele próprio que possibilitava aos habitantes do espelho invadirem o “mundo real”, cujo desfecho deixa no ar a dúvida sobre se todos aqueles eventos aconteceram mesmo ou se tudo não passou de um sonho de Narda.
A Pixel Media realmente caprichou na reedição, mantendo fidelidade não só ao desenho de Phill Davis como também às transições ao longo da história, quando de sua publicação original em tirinhas de jornal (Continua…). Um dos aspectos mais bacanas da didática da trama é que o leitor tem realmente que levantar a busanfa da cadeira e confrontar o volume em mãos contra um espelho próximo, a fim de tornar legíveis as falas dos personagens no interior do espelho.
Mandrake e o Mundo do Espelho é, por fim, uma ótima história de um dos personagens dos quadrinhos mais celebrados do mundo, além de ser uma boa opção para quem é adepto do bom e velho paradigma do herói paladino, uma concepção de herói que anda um bocado em desuso de uns tempos pra cá.