Em janeiro desse ano, foi lançada a primeira edição da Revista A Taverna. A publicação digital chega com a missão de reunir as melhores histórias de fantasia/ficção-científica em um único lugar. Assim, logo de cara encontramos cinco contos de autores nacionais que foram criteriosamente selecionados pelo selo A Taverna. Como são obras curtas, onde qualquer informação a mais pode estragar as surpresas da leitura, vamos apenas comentar rapidamente sobre eles.
O primeiro conto é Como Um Fio que se Estende pela Eternidade, da escritora Anna Fagundes Martino. Trata-se da história de dois telepatas, Edgar e Marina, que se conectam mentalmente e acabam estabelecendo uma espécie de matrimônio telepático. Mas imagine ter alguém em sua cabeça quase 24 horas por dia, ouvindo seus pensamentos sem ter a necessidade de estar próximo fisicamente? Dessa forma, o “casal” precisa encontrar uma forma de conviver um com o outro e contornar os diversos problemas que vão surgindo pelo caminho. A conclusão é bem criativa e foge do previsível.
Em seguida, vem As Dores de Cada Um, escrito por Rubem Cabral. Somos apresentados a Jorge Arenas, uma espécie de guru espiritual que possui o dom de eliminar a dor de seus pacientes entrando na mente deles e enfrentando os monstros que são responsáveis por causar o sofrimento. Jorge ganha a vida cobrando caro por esses serviços, porém as coisas ficam estranhas quando ele conhece a misteriosa Theodora. O final tem intenção de causar espanto no leitor, mas uma informação fundamental foi revelada rápido demais. De certo modo isso é compreensível, visto que o formato da narrativa é mais curto, contudo esse merecia ser mais explorado.
Venâncio Aguado, de Letícia Copatti Dogenski, é a terceira história da Revista. A obra fala sobre a doença que abate Venâncio de forma repentina, deixando toda a sua família sem saber o que fazer para ajudá-lo. A única coisa que eles percebem é que, enquanto o homem está perto da água, suas dores parecem diminuir. Esse conto tem o final mais dúbio, deixando margem para muitas interpretações, algo que pode agradar a alguns leitores e desagradar a outros.
A Norma Aqui de Cima é o próximo da fila. Esta ficção-científica escrita por Renan Bernardo lembra a série 3%, principalmente pela divisão social que nos é apresentada. Para que as pessoas tenham acesso à educação e a trabalhos dignos, elas devem falar segundo a Norma da língua. Abá é uma mulher pobre que mora na favela junto com seus dois filhos. Ainda criança, ela implantou em seu cérebro o Normalizador, um aparelho que converte sua fala informal para a Norma. Desse jeito ela consegue frequentar a escola, mas um de seus colegas suspeita que ela esteja usando o conversor para se passar por uma “cidadã”. O sonho da filha de Abá é se tornar advogada, mas se sua mãe for expulsa da escola, ela nunca poderá estudar também. Então a mulher precisa evitar que isso aconteça. As várias discriminações sociais que vemos hoje em dia ficam claras durante a narração, mesmo levando em conta o lado ficcional.
Por último, temos o conto Asas, de Daniela Almeida. Em um mundo onde as crianças nascem com partes de animais em seus corpos, Alrane foi privilegiada ao nascer com asas no lugar dos braços. Pelo curso normal das coisas, as asas da menina deveriam se tornar braços novamente quando ela crescesse, entretanto isso não ocorre. Isto coloca muita pressão nas costas de Alrane, que precisa lutar entre o desejo de manter suas asas ou se tornar aquilo que esperam que ela se torne. Sem dúvidas, esta é a obra mais emotiva e traz muitas reflexões a respeito de nossas próprias vidas, deixando-nos duas opções sobre como seguir adiante.
Pelo conteúdo que podemos ler apenas na primeira edição da Revista A Taverna, já dá para perceber que o projeto será um sucesso. Tanto a equipe que organizou e publicou o periódico, quanto os autores que contribuíram com seus contos estão de parabéns pela ótima qualidade apresentada. Agora, só nos resta aguardar pelo segundo volume, que chegará em breve.
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