Tijolômetro – Máquina do Tempo (Lola):

Ótimo!

As tramas sobre viagem no tempo são as mais consagradas dentro da ficção científica, mas também as mais difíceis de fugir do lugar-comum. A inovação pode surgir da complexidade teórica, da época em que a narrativa se desenvolve e até mesmo dos objetivos dos personagens. Em Máquina do Tempo, Lola no original, o roteiro se vale de um dos períodos mais sombrios da História e de uma estética única para chamar a atenção dentro do gênero.

O filme britânico/irlandês acompanha a trajetória das irmãs Martha (Stefanie Martini) e Thomasina (Emma Appleton), duas inventoras que, em 1941, criam Lola, uma máquina capaz de interceptar transmissões de rádio e TV vindas do futuro. O que começa como uma simples diversão e um passeio pela cultura – especialmente dos anos 60 e 70 – torna-se uma arma indispensável para a Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial com terríveis consequências.

O contexto histórico de Máquina do Tempo já seria suficiente para tornar a produção dirigida por Andrew Legge interessante. Porém, o estilo de filmagem torna a experiência ainda mais imersiva. A obra, toda em preto e branco, foi filmada com câmeras e lentes autênticas da década de 1930 que transportam os espectadores para aquela época como se estivéssemos assistindo a um registro original. Além disso, o formato found-footage simula gravações feitas pelos próprios personagens, criando uma atmosfera de vídeos caseiros em primeira pessoa.

Por outro lado, a trilha sonora apresenta um anacronismo proposital no desenvolvimento do roteiro. Clássicos como Sapce Oddity e You Really Got Me, de David Bowie e The Kinks respectivamente, ganham significado muito antes de essas canções terem sido compostas e exercem forte influência sobre as protagonistas.

Falando nisso, tanto a personalidade de Thom quanto a de Martha são impactadas pela cultura do futuro, em particular o movimento punk, causando um choque cultural evidente. Ambas estão literalmente à frente de seu tempo e muitas pessoas contemporâneas não entendem seus posicionamentos e formas de pensar e agir.

Desse modo, o protagonismo feminino de Máquina do Tempo também funciona como uma denúncia para o tratamento que as mulheres recebem na Ciência. Em muitas das vezes, suas descobertas são diminuídas ou então atribuídas a homens para que sejam levadas a sério no meio acadêmico e social. Assim acontece com as duas personagens centrais e já aconteceu com outras cientistas ao longo dos anos.

Entrando na parte da ficção, as consequências de se mexer com o tempo se tornam evidentes antes mesmo que elas sejam reveladas na trama, contudo ainda é impactante ver os rumos que as coisas poderiam ter tomado se a Guerra se desenrolasse de outra forma. Diante dos obstáculos, o desfecho também não poderia ser outro, recaindo nos paradoxos inevitáveis das viagens no tempo.

Ao se passar por um registro autêntico da década que retrata, Máquina do Tempo consegue transportar o público para aquela época e causar a sensação de que estamos assistindo a algo novo dentro de um gênero que já conhecemos. Mesmo não sendo tão complexo quanto outras produções, a abordagem do filme é o que o torna único entre seus semelhantes.

Assista ao trailer:

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Mozer Dias

Engenheiro por formação, mas apaixonado pelo mundo da literatura e do cinema. Se eu demorar a responder, provavelmente estou ocupado lendo ou assistindo a um filme.

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