Em meio a tantos remakes e versões alternativas de personagens clássicos da cultura pop, voltar às raízes pode ser uma boa solução para despertar novamente o interesse do público por franquias consagradas. O filme japonês Godzilla Minus One segue justamente por esse caminho e coloca o lagarto atômico mais conhecido dos cinemas em uma batalha mortal contra a humanidade.

Em 1945, o Japão encontra-se devastado após a derrota na Segunda Guerra Mundial. Nesse contexto de destruição, o piloto kamikaze Kōichi Shikishima (Ryunosuke Kamiki) volta à cidade para reconstruir sua vida. Porém, seus tormentos do passado retornam quando Godzilla surge no litoral japonês e inicia uma onda de devastação e mortes por onde passa.

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A trama simples e objetiva leva a narrativa do kaiju radioativo de volta às origens, tratando o monstro gigante como o que de fato ele é: um fruto oriundo da guerra. Como tal, ele não poderia ser outra coisa além de nocivo e mortal para os seres humanos. Assim, o personagem foge completamente da visão hollywoodiana do anti-herói que ajuda a humanidade a enfrentar um inimigo em comum. Na verdade, é totalmente o oposto: o inimigo é o próprio Godzilla.

Esse conceito é fundamental para entendermos o significado do título Godzilla Minus One (menos um). Depois da derrota na guerra e do lançamento das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, a situação do Japão é tão crítica que, teoricamente, não há como piorar; o país está zerado, sem recursos e sem ajuda externa. Contudo, o surgimento de Godzilla consegue tornar as coisas ainda piores e levar a sociedade japonesa ao saldo negativo tanto do ponto de vista político e econômico quanto psicológico.

A consequência disso para a produção é que o roteiro resgata um elemento que falta nas releituras norte-americanas: o fator humano. Aqui, o núcleo de pessoas tem participação ativa no desenvolvimento da obra, sendo a contraparte do personagem-título. Além das motivações pessoais na luta pela sobrevivência – principalmente o arco de redenção de Shikishima – também podemos ver a influência do contexto político mundial que está se formando no pós-guerra e que culminará na Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética.

Outro ponto de destaque são as cenas de ação empolgantes que causam impacto vistas na telona. O fator que mais contribui para isso são os efeitos visuais empregados, bons ao ponto de garantirem uma indicação ao Oscar 2024 nessa categoria. Em 70 anos, essa é a primeira vez que a franquia recebe o reconhecimento da Academia, o que torna esse filme um marco histórico para a trajetória do kaiju nos cinemas.

Godzilla Minus One é tudo aquilo que o Monsterverse americano tenta ser e não consegue, obtendo sucesso com uma trama que remete à nostalgia ao mesmo tempo em que atrai novos espectadores. O roteiro simples e objetivo retorna ao ponto de partida e recoloca seu personagem central nos eixos para mostrar o quanto a guerra – e tudo que se origina dela – é prejudicial para a humanidade.

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Godzilla Minus One (2023)

8.0 Ótimo!
  • nota 8
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Mozer Dias

Engenheiro por formação, mas apaixonado pelo mundo da literatura e do cinema. Se eu demorar a responder, provavelmente estou ocupado lendo ou assistindo a um filme.

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