Tijolômetro: A Avaliação
Sem fazer muito alarde, A Avaliação foi adicionado ao catálogo da Prime Video no início de 2025, trazendo uma premissa que aposta no desconforto e na inquietação. Diferenciado, o primeiro longa da cineasta Fleur Fortuné se destaca pelas grandes atuações do elenco e por uma narrativa que mantém o espectador em constante tensão.
No futuro, a Terra foi severamente danificada pelas mudanças climáticas, em um cenário onde os recursos se tornaram escassos e racionados. Até mesmo o direito de ter filhos é rigidamente controlado, colocando casais em uma avaliação de sete dias para verificar se estão aptos ou não. Mia (Elizabeth Olsen) e Aaryan (Himesh Patel) passam por esse processo conduzido por Virginia (Alicia Vikander), cuja presença constante transforma o sonho em um pesadelo que os leva a questionar as bases de sua sociedade e o verdadeiro significado de ser humano.
Apresentando uma trama distópica diferente de muitas propostas conhecidas da ficção científica, o roteiro de Dave Thomas, Nell Garfath-Cox e John Donnelly constrói uma base sólida desse contexto específico, mas deixa escapar detalhes que poderiam tornar essa construção de enredo ainda mais envolvente. Um exemplo é a divisão desse mundo futurista em Velho Mundo e Novo Mundo; embora os protagonistas vivam no segundo, a audiência conhece pouco sobre o primeiro, o que limita a compreensão da amplitude dessa sociedade e de suas diferenças internas.
No Novo Mundo, a interferência do governo é uma realidade na vida das pessoas, mesmo sem transparência quanto aos dados sobre casais aprovados e dinâmicas avaliativas. Quem é avaliado não sabe todos os detalhes do processo, apenas aceita que é assim que o sistema funciona.
Desse modo, além de uma interação inicial levemente constrangedora Virginia submete seus candidatos a um choque de realidade, algo que sempre causa impacto, pois ela alterna entre momentos em que se comporta como uma criança e outros em que retorna ao modo “normal”. Essa dualidade cria uma sensação inicial de surpresa que logo se transforma em desconforto. Com diferentes tipos de teste, cada vez mais intrusivos, que envolvem manipulações psicológicas e também sexuais, ela estabelece uma atmosfera de desestabilização emocional intensa e progressiva.
Do outro lado, Mia e Aaryan reagem de diferentes formas às provocações da avaliação de Virginia. Por meio de gestos e olhares, Mia revela todo o medo e a esperança que se misturam dentro dela, muitas vezes dizendo mais do que qualquer diálogo poderia expressar. Já Aaryan vive o mesmo dilema, embora busque uma postura mais pragmática, reprimindo emoções que insistem em vir à tona.
Além disso, outro ponto que merece destaque é a trilha sonora. Sinuosa como uma cobra, a trilha de Emilie Levienaise-Farrouch percorre o silêncio e o ambiente fechado da casa, reforçando a tensão emocional que cresce a cada cena, intensificando a sensação de isolamento e controle.
Com cuidado em aspectos técnicos e ancorando-se em um elenco talentoso, A Avaliação tem todos os méritos para se tornar um cult cinematográfico daqui há alguns anos. Indo na contramão de distopias futuristas que colocam a tecnologia do centro da trama, o longa de estreia Fleur Fortuné permanece na memória da audiência por um tempo despertando importantes reflexões sobre a vida em sociedade.
Assista ao trailer de A Avaliação:
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