Tijolômetro – Cyclone (2025)
Algumas histórias perdem-se com o tempo, mas felizmente a Sétima Arte tem a capacidade de resgatar e reconstruir a trajetória de personalidades quase apagadas. Cyclone, da diretora Flávia Castro, transporta os espectadores para o início do século XX para reimaginar os percalços de uma mulher que poderia facilmente viver na sociedade atual.
A trama nos apresenta à Dayse (Luiza Mariani), uma operária com a ambição de ser reconhecida como dramaturga. A oportunidade para concretizar esse sonho surge quando ela ganha uma bolsa para estudar teatro em Paris. Contudo, ela descobre que o maior obstáculo em seu caminho é o fato de ter nascido em uma época em que as mulheres não são donas de si mesmas.
O roteiro escrito por Rita Piffer se inspira livremente na vida de Maria de Lourdes Castro Pontes que, durante o Modernismo, foi apelidada de Miss Cyclone. Ela foi a única mulher a participar da coletânea O Perfeito Cozinheiro das Almas Deste Mundo, de Oswald de Andrade. Apesar de haver poucos registros sobre a escritora — falecida aos 19 anos —, o filme reinventa seus passos e cria uma personagem original.
Nesse contexto, a ambientação, os cenários e o figurino contribuem para a atmosfera característica do começo dos anos 1920. Até mesmo o formato quadrado da imagem remete a uma produção de outro século, como se fosse uma obra antiga.
Já o elenco conta com nomes conhecidos como Eduardo Moscovis interpretando o dramaturgo Heitor Gamba, Luciana Paes como Lia e Karine Teles na pele da atriz de teatro Marie. Mesmo que não haja uma performance que se sobressaia, todos — junto com a protagonista de Luiza Mariani — apresentam um bom trabalho de atuação.
Por mais que seja um filme de época, Cyclone poderia muito bem se passar na sociedade atual. A liberdade da mulher — na verdade, a falta dela na maior parte do tempo — até mesmo sobre o próprio corpo é questionada a todo momento. Além disso, há a falta de espaço não apenas na dramaturgia, mas em todos os outros setores profissionais, algo que perdura desde o início do século.
Porém, o longa peca ao mostrar pouco do trabalho de Dayse como escritora. Sabemos de sua personalidade e sua determinação para conseguir o que quer, mas não temos dimensão de como sua escrita se destacava no meio teatral. O máximo que vemos são frases soltas em momentos de criação, contudo não há uma obra concluída.
Ainda que falte esse detalhe para tornar a trajetória da personagem completa, Cyclone consegue reconstituir a imagem de uma figura que estava quase se perdendo nas brumas do tempo. Infelizmente, muitos dos problemas que as mulheres enfrentavam antigamente ainda estão presentes, entretanto a produção cumpre seu papel social de denunciá-los.
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