Tijolômetro – Nossos Tempos
Há décadas, o tema da viagem no tempo é explorado em diferentes gêneros cinematográficos, especialmente na ficção científica. Por isso, torna-se um desafio encontrar algo diferente e interessante. Nesse aspecto, Nossos Tempos consegue se destacar no catálogo da Netflix, oferecendo um olhar intimista sobre um assunto pertinente, embora polêmico.
Em 1966, no México, um casal de físicos trabalha em um projeto ambicioso financiado pela universidade em que lecionam. Quando um experimento inesperado altera o rumo de suas vidas, a cientista Nora (Lucero) e seu marido Héctor (Benny Ibarra) viajam acidentalmente para o ano de 2025, ano em que passam a lidar com questões sobre os papéis de gênero e as mudanças sociais de um novo tempo.
Com direção de Chava Cartas, Nossos Tempos cativa desde o início ao retratar a paixão de Nora pela ciência e sua luta por reconhecimento em um meio dominado por homens. Em sala de aula, ela demonstra entusiasmo ao discutir a teoria sobre um buraco de minhoca ser formado a cada trinta anos, possibilitando o deslocamento temporal.
No entanto, isso perde força quando precisa de mais apoio dos superiores que não lhe dão o devido reconhecimento. Esse contraste entre a curiosidade científica e a desigualdade social dá força à narrativa e prepara o caminho para os dilemas centrais da produção. O roteiro de Juan Carlos Garzón e Angélica Gudiño utiliza a ficção científica para explorar o machismo estrutural, questionando o espaço ocupado pelas mulheres na ciência e na sociedade.
Mais adiante na trama, o casal se depara com novas perspectivas sobre liberdade, progresso e igualdade, o que provoca reflexões profundas. A relação entre Nora e Héctor se transforma em um espelho das tensões entre passado e presente, mostrando como o avanço tecnológico pouco significa sem evolução humana.
Apesar dessa seriedade, há espaço para leveza e humor. Chega a ser cativante e ao mesmo tempo engraçado assistir às reações do casal quando se confronta com novas tecnologias, ausência de conservadorismo e comportamentos liberais da atualidade. Com esse choque por conta do confronto de costumes, cria-se na verdade uma oportunidade para que eles reflitam sobre as decisões que precisam ser tomadas em relação ao futuro.
O ponto de maior controvérsia está na abordagem declaradamente feminista. Considerando que temas como empoderamento feminino ainda geram resistência, há o risco de parte da audiência enxergar o filme como excessivamente militante. Ainda assim, essa leitura não diminui o valor da proposta nem o impacto da mensagem central.
De todo modo, Nossos Tempos reflete de maneira sensível e instigante sobre os temas que propõe. Com curta duração, de apenas uma hora e meia, o longa é suficiente para transmitir seu recado: o machismo continua sendo um obstáculo que impede o devido reconhecimento das mulheres na ciência e em tantos outros campos.
Assista ao trailer de Nossos Tempos:
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