Tijolômetro – Entre Penas e Bicadas (2025)

Ruim!

Pixar e a DreamWorks já nos mostraram que desenho é coisa de gente grande, por mais que o público-alvo seja composto por crianças. Esses estúdios também pensam nos adultos e sempre colocam camadas mais profundas dentro de suas produções para torná-las atrativas a todos. Mesmo que os pequeninos não se atentem tanto a problemas de roteiro, os mais velhos não deixam essas falhas passarem despercebidas, caso existam. Nesse sentido, a animação chinesa Entre Penas e Bicadas fica muito abaixo desse referencial de qualidade ao subestimar a inteligência de seus espectadores. 

A trama dirigida por Dong Long e Nigel W. Tierney (Shrek Para Sempre e Kung Fu Panda 3) nos apresenta ao jovem Bico Dourado, uma águia órfã, que foi criado em uma cidade de galinhas e cresceu sem aprender a voar. Sentindo que não pertence ao lugar onde cresceu, ele parte com Catraca, sua irmã adotiva, para a Cidade Aviária. Ao chegar, ele encontra seu tio, o prefeito Bate Asas, e descobre mais sobre o passado de sua verdadeira família. Porém, Bico Dourado percebe algo errado que ameaça a todos que ama. 

Essa questão de pertencimento é um ponto de partida promissor para qualquer história e já foi abordada de forma brilhante em Robô Selvagem (2024). Contudo, Entre Penas e Bicadas tem um desenvolvimento tão apressado que todos os temas com potencial ficam apenas na superficialidade. Seja o amadurecimento do protagonista ou a aceitação das diferenças entre as espécies, tudo se perde pelo caminho sem a devida conclusão. 

Isso é agravado pela montagem desconexa da animação. Nem mesmo um problema técnico como este pode ser ignorado pelo público em geral, já que são saltos de uma cena para a outra e omissões que deixam certas sequências sem coesão. A confusão é ainda maior no embate final, onde tantas coisas acontecem simultaneamente que não conseguimos acompanhar. 

Além da falta de profundidade e da narrativa caótica, o roteiro se vale de fórmulas prontas e estereótipos de personagens. Desse modo, o filme se torna previsível do início ao fim até mesmo para uma criança. De imediato, sabemos quem são os vilões, quem mente e quem irá se redimir. Não existem reviravoltas, por mais que a direção queira nos fazer acreditar que sim. 

Já a qualidade da animação, embora esteja aquém do trabalho feito por outros estúdios — incluindo produções chinesas, como Ne Zha 2 (2025) — tem bons momentos. A paleta de cores e as cenas de ação, especialmente no treinamento de voo do protagonista, são competentes e possuem fluidez de movimento. 

Para os adultos que estão acostumados a extrair mensagens mais profundas de obras do gênero, Entre Penas e Bicadas não oferece nada além do superficial. Diferentemente de outras animações, esta não agradará além do público infantil menos exigente, entregando apenas o mínimo para engajar os espectadores, sem se preocupar com o quanto é condescendente.

Assista ao trailer:

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Mozer Dias

Engenheiro por formação, mas apaixonado pelo mundo da literatura e do cinema. Se eu demorar a responder, provavelmente estou ocupado lendo ou assistindo a um filme.

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