Tijolômetro  – Wind Breaker (2ª Temporada)

Bom!

É curioso como algumas obras conseguem nos encantar em sua estreia e, em seguida, desafiar nossas expectativas ao dar continuidade à narrativa. A segunda temporada de Wind Breaker é um desses casos: intensa em seus dilemas, ousada em alguns temas, mas também tropeçando em pontos que já haviam incomodado na temporada anterior. Se por um lado mergulhamos em dramas pessoais que expandem a complexidade dos personagens, por outro nos deparamos com idealismos que desafiam até a mais flexível suspensão de descrença. O resultado? Uma experiência que oscila entre o inspirador e o ingênuo — e que merece ser discutida com calma.

A nova temporada dá sequência imediata aos eventos do primeiro arco, retomando a trajetória de Haruka Sakura e seu envolvimento com a gangue Bofurin, um grupo que, ao contrário das demais, se propõe a proteger o bairro em vez de explorá-lo. Com 13 episódios, o anime continua dentro do escopo de um shonen de ação e delinquência juvenil, mas abre espaço para debates que não são comuns no gênero. Assim como Tokyo Revengers e Crows Zero, Wind Breaker constrói seu universo em torno da violência de gangues, mas a diferença está no foco: não apenas nos confrontos físicos, mas também na moralidade, nos ideais e no amadurecimento interno de seus personagens.

Do ponto de vista técnico, a série mantém a assinatura do estúdio CloverWorks, responsável também por obras como Horimiya, The Promised Neverland e Spy x Family. A produção conta com direção de Toshifumi Akai, e o anime é uma adaptação do mangá escrito por Satoru Nii. O estúdio, que já tem fama de entregar animações fluidas e cuidadosas no traço, sustenta bem as cenas de ação e os enquadramentos dramáticos desta segunda temporada, ainda que não chegue a surpreender em termos visuais como fez em alguns momentos da primeira. O mangá, ainda em publicação, serve como base para futuras continuações, o que já deixa clara a intenção de prolongar a jornada de Sakura e da Bofurin.

Um dos grandes destaques desta segunda temporada está no aprofundamento do protagonista. Sakura, antes definido por sua força bruta e instinto solitário, é colocado frente a frente com um dilema essencial: ser o mais forte é lutar sozinho ou saber carregar — e ser carregado — por seus companheiros? Esse conflito interno move grande parte da narrativa, evidenciando não só seu amadurecimento como também as responsabilidades crescentes de seu papel dentro da Bofurin. O espectador acompanha de perto sua transformação de mero lutador impulsivo para alguém que precisa refletir sobre liderança, confiança e vulnerabilidade.

Outro ponto que surpreende positivamente é o arco de Tsubakino. Poucos shonens têm coragem de tocar em temas ligados à homossexualidade, ainda mais no universo das gangues, marcado por uma masculinidade exacerbada. Wind Breaker faz isso sem caricatura: Tsubaki luta de salto alto, assume sua identidade com firmeza e se torna uma inspiração para seus pares, inclusive para Sakura. Sua trajetória de aceitação pessoal e libertação é um sopro de frescor no gênero, e merece elogios pela naturalidade e pela coragem da abordagem.

Entretanto, o problema da suspensão de descrença — já presente na primeira temporada — se intensifica aqui. Primeiro, pela completa ausência de qualquer força policial ou ação governamental diante de bairros inteiros tomados por confrontos de gangues, com prejuízos a comércios e moradores. Segundo, pelo idealismo quase ingênuo da Bofurin. A aceitação, amizade e compreensão entre personagens em um ambiente tão violento beiram o utópico, especialmente quando vemos que até a revelação da homossexualidade de um dos Reis da gangue é acolhida sem maiores resistências. Embora seja um retrato inspirador, fica difícil não questionar se a narrativa não exagera nesse romantismo.

No fim das contas, a segunda temporada de Wind Breaker entrega momentos relevantes, mas fica abaixo da primeira em termos de impacto geral. Ainda assim, é uma continuação que vale pelo aprofundamento de Sakura e pelo arco corajoso de Tsubaki. O último episódio deixa claro que novos perigos se aproximam: um inimigo que ameaça implodir a Bofurin e tenta seduzir Sakura a abraçar de vez o caminho do lobo solitário. Mais debates sobre companheirismo, egoísmo e cumplicidade certamente virão. Até lá, Wind Breaker segue disponível na Crunchyroll, esperando por quem quiser refletir sobre até onde vai a força de um líder e o poder de uma matilha.

Confira o trailer da segunda temporada:

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Daniel Gustavo

O destino é inexorável.

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