Tijolômetro – Totto-Chan: A Menina na Janela (2023)
Até mesmo os períodos mais sombrios da humanidade podem ganhar uma perspectiva diferente sob o olhar de uma criança. Com Totto-Chan: A Menina na Janela, o diretor Shinnosuke Yakuwa transforma a autobiografia da atriz e apresentadora Tetsuko Kuroyanagi em uma bela animação na qual a inocência e a empatia se sobrepõem à barbaridade de uma guerra.
Totto-Chan é uma menina hiperativa de 7 anos que foi expulsa de sua antiga escola por ser considerada “problemática” pelos professores. Dotada de curiosidade e energia inesgotáveis, a carismática garotinha conhece o diretor Kobayashi e é aceita na Tomoe Gakuen, uma instituição de ensino fora dos padrões. Enquanto ela cria laços com o novo ambiente e faz amizades, a atmosfera de apreensão aumenta gradualmente após a entrada do Japão na Segunda Guerra Mundial.
Tetsuko Kuroyanagi escreveu suas memórias no final dos anos 1970 depois de ver uma notícia sobre a crescente evasão escolar em seu país. Tentando incentivar os alunos a retornarem às salas de aula, a celebridade japonesa decidiu contar as histórias de sua infância na peculiar Tomoe, onde as salas de aula eram vagões de trem adaptados.
Assim, Totto-Chan: A Menina na Janela foca, principalmente, no diferencial da escola e na importância que esse lugar tem para o crescimento da protagonista. Lá, o grande responsável por fazer as coisas acontecerem é o diretor Kobayashi, um homem dedicado a extrair o melhor dos estudantes, deixando-os livres. Isso fica evidente quando vemos que a primeira aula do dia consiste em deixar que cada criança realize, de forma independente, a atividade de que mais gosta.
Nesse cenário lúdico, a guerra fica em segundo plano a maior parte do tempo. Enquanto as tensões aumentam, Totto-Chan constrói uma amizade sincera com Yasuaki, um menino com poliomielite. Mesmo com limitações físicas, a garota não o trata de modo diferente nem o exclui das brincadeiras, muito pelo contrário. Essa empatia e inocência dos dois contrastam com a violência e a intolerância que dominam o restante do mundo.
A qualidade da animação é um elemento de destaque que torna o longa ainda mais emblemático. A paleta de cores vívidas se combina com os traços delicados para ilustrar as mais diversas cenas, sejam cômicas ou dramáticas. Em algumas delas, a direção experimenta outras texturas e estilos de desenho para representar a imaginação ou os sonhos de acordo com o significado de cada sequência.
À medida que o tempo passa, é inevitável que parte da inocência de Totto-Chan se perca. Apesar disso, o roteiro continua retratando a guerra de maneira sutil, sem recorrer à violência visual. Tal sutileza deixa a obra mais leve, porém alguns fatos ficam subentendidos a ponto de não terem uma explicação clara do que aconteceu.
De qualquer forma, Totto-Chan: A Menina na Janela é um filme belo e delicado que prioriza as coisas boas da vida mesmo no ambiente hostil provocado pela Segunda Guerra Mundial. No fim das contas, não é apenas o olhar puro das crianças que pode tornar o mundo melhor, mas a percepção dos professores quanto a essa pureza também faz a diferença.
Assista ao trailer:
Conteúdo relacionado:
Fique por dentro das novidades!


