Aviso: Esse texto pode conter alguns spoilers

As obras de Guillerme Del Toro geralmente têm a particularidade encantadora de caminhar, ao mesmo tempo, pela fantasia e pelo sombrio. Em Beco do Pesadelo, filme dirigido pelo diretor mexicano e indicado ao Oscar 2022 de Melhor Filme, temos pitadas de tais caracteríticas de forma discreta, num jogo perigoso que pode estabelecer um ciclo inerente à humanidade. Assemelhando-se como um conto temático sobre a ambição e suas consequências.

O vigarista Stanton Carlisle (Bradley Cooper), que tem um talento para manipular pessoas, se une a uma clarividente e seu marido mentalista para aprender a arte da “mentalização” em um circo. Porém quando o limite é ultrapassado, enganar um perigoso magnata com a ajuda de uma misteriosa psiquiatra pode ser a sua ruína. 

Beco do Pesadelo conta com um elenco de peso. Além de Bradley Cooper, chama a atenção as performances de Rooney Mara, Willem Dafoe e Cate Blanchett em seus papéis. O filme estabelece um clima de fuga e reinício para seus personagens, parece que todos ali deixaram uma trilha de dor em seus passados, “esqueletos no armário”, e que estão agora tentando uma nova vida transeunte no circo. E o ambiente circense é irônicamente interessante para o trabalho de Del Toro, pois representa o contexto mágico, porém com o lado sujo e sombrio dos bastidores do picadeiro, justamente o que o diretor gosta. 

A dimensão fantástica do filme reside também no estilo de vida que Carlisle escolhe, ser um mentalista, a arte da advinhação e manipulação. E consegue muito sucesso nisso. Porém havia um limite que seu mentor o alertava para que não fosse ultrapassado, e isso contribui para que a tensão da trama aumente e seu suspense se torne algo iminente, pois o protagonista tem a todo momento seu cárater posto em dúvida; e não era para menos. Ele também tinha um passado que tentava esquecer ou, pelo menos, esconder. E com o desenrolar somos apresentados ao lado sombrio do ser humano. O quanto alguém é capaz de cometer atos “selvagens” tanto para o seu prazer e ambição quanto pela sua sobrevivência.

A grande questão de Beco do Pesadelo são as possibilidades extremas que um ser humano pode chegar pelo excesso de ambição. E aqui vale citar a frase que Denzel Washington disse a Will Smith no “Oscar do tapa”: “O demônio tenta quando você está no auge“. A ideia que o ser humano tem de que sempre é possível forçar os limites mais um pouco para atingir seus objetivos, que podemos em um primeiro momento chamar de esperança, mas que, por outro lado, pode se transformar na pior escolha de sua vida. E quando Carlisle estava em seu auge, foi quando sua ambição ultrapassou os limites.

Após conhecer a psiquiatra (Cate Blanchett) em um evento, o protagonista entra em um jogo perigoso de poder em uma relação de pessoas anti-éticas e obscuras, que se reconheciam ali, um no outro. Um jogo excitante para ambos. Uma disputa de egos e sobre quem deixa o outro mais vulnerável. E com isto os acontecimentos do filme escalona de uma maneira irreversível e estabelece o ciclo: “o belo de hoje pode ser a mostruosidade de amanhã“. 

Beco do Pesadelo é um filme interessante para notarmos como a ambição pode ser um beco sem saída quando é almejada de forma desmedida. Será por um castigo divino? do destino? Ou apenas uma consequência de uma decisão pouco inteligente. Por fim, sente-se falta de algo ainda mais sobrenatural ou que pelo menos brinque mais com a fuga da realidade, coisas que esperamos de um filme de Del Toro. Mesmo com essas pitadas de fantasia, Beco do Pesadelo é um de seus filmes mais calcados no “plano real”. 

Beco do Pesadelo

7.0
  • Nota 7
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Daniel Gustavo

O destino é inexorável.

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