Neste mês de abril, há uma data simbólica comemorada no dia 7 conhecida como O Dia do Jornalista. Aproveitando esta oportunidade é válido para esta coluna destacar alguns pontos interessantes sobre as relações entre jornalismo e histórias em quadrinhos. Aparentemente, um tema como esse faz com que a grande maioria das pessoas relembre de personagens icônicos que trabalham em jornais e salvam o mundo. Porém, esta relação vai muito além disso em termos históricos e factuais. Em outras palavras de cunho jornalístico falar sobre isso é uma pauta atemporal.
O primeiro aspecto é em relação ao desenvolvimento da linguagem dos quadrinhos em seus primórdios. Se observamos bem, as pinturas nas cavernas eram formas de transmitir informações através de imagens em sequências. É como se o homem primata fosse ao mesmo tempo um desenhista e jornalista.
Outro dado interessante em relação a isso é como a narrativa sequencial das HQs permite ao seu leitor um processo de assimilação maior. Isso ocorre porque a junção de imagem e texto torna a mensagem mais acessível pois faz com que o leitor use os dois lados do cérebro, conforme explica o psicólogo Paulo Gaudêncio em um dos capítulos do livro Shazam!, que contou com organização do jornalista Álvaro de Moya.
Seguindo mais adiante no tempo, temos as charges. Presentes em jornais periódicos desde o fim do século 19 esta forma de expressão artística é conhecida por sua linguagem essencialmente objetiva e muitas vezes cômica. Vale ressaltar que o humor delas tem várias finalidades, como, por exemplo, fazer comentários sobre questões atuais. Inclusive, muitas críticas são feitas através deste meio de comunicação. Não é a toa que muitas delas rendem várias polêmicas históricas como aconteceu no caso do jornal francês Charlie Hebdo anos atrás. Para mais informações sobre esta história, recomendo este artigo da Revista Carta Capital.
Outro exemplo interessante sobre a relação entre jornalismo e quadrinhos pode ser encontrado na graphic novel Marvels, de Kurt Busiek (texto) e Alex Ross (arte). A premissa desta HQ é mostrar os grandes momentos da história do Universo Marvel vistos sob o ponto de vista do fotógrafo Phil Sheldon. Além de ser um trabalho interessante que permite ao leitor rever vários acontecimentos dos quadrinhos da editora por outro ângulo, esta obra também fica marcada pelo seu traço hiper-realista. Este detalhe faz um casamento perfeito com a proposta de retrato jornalístico deste mundo cheio de superseres.
Aliás, quando o assunto é sobre os jornalistas dos quadrinhos, não podemos esquecer o casal Lois Lane e Clark Kent. Enquanto a primeira é muitas vezes retratada como uma personagem clichê que sempre coloca os objetivos profissionais acima de tudo, o segundo acaba tendo uma relação menos próxima com a profissão até mesmo como forma de constaste. Na verdade, o trabalho do alter-ego do Superman no Planeta Diário acaba sendo uma desculpa para estar mais informado sobre os problemas do mundo afim de poder resolvê-los de forma definitiva. Outros heróis e personagens secundários também poderiam ser citados neste sentido, mas estes dois são mais do que o suficiente justamente por serem tão icônicos.
Ainda há muito o que se comentar sobre a relação entre jornalismo e quadrinhos. No entanto, o objetivo deste texto é ser uma homenagem breve feita tardiamente. Na verdade, o atraso caso neste pode ser considerado relativo pois o tema em si continua sempre em movimento assim como as noticias que não esperam hora nem lugar para acontecer.
Olhar Literário é uma coluna escrita por Marcus Alencar. Marcus é redator no site Leituraverso e um dos hosts do podcast Leituracast