Extraordinário é um filme que trata daqueles temas que a gente pensa duas vezes antes de assistir: criança sofrendo problemas com aceitação no colégio. E nesse caso teria tons mais dramáticos pois o protagonista, Auggie Pullman, nasceu com deformações no rosto. Mas foi uma surpresa assistir um tema tão delicado e denso em uma visão suave e otimista. Até demais. Não que tenha faltado drama ou sensibilidade com algumas questões, mas Extraordinário utiliza “fofura” e bom humor para encararmos tais dramas, mas deixa o cãozinho fazer o “trabalho sujo”.

Auggie, um menino que nasceu com deformidade no rosto após passar por 27 cirurgias plásticas e completar 10 anos enfim vai pela primeira vez estudar numa escola regular (antes a mãe lecionava pra ele em casa). Ele e toda família estão na expectativa pela convivência com as outras crianças do colégio, já que a deformidade dele é algo que causa estranheza. Com este ponto de partida entramos no mundo de Auggie e das pessoas que o rodeia.

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O filme adapta o homônimo livro escrito pela R.J. Palacio publicado em 2012. E assim como na publicação o filme é setorizados por capítulos referentes a cada personagem. E isso dá uma boa ideia de como a história não é aquele dramalhão como havia de se esperar. Extraordinário ilustra como a deformidade pode ser algo incômodo, algo que pode despertar a curiosidade de uns ou o medo de outros e sem dúvidas há pessoas más ou ignorantes que lidam com isso da pior maneira possível. Mas o filme mostra que o problema não está na deformidade em si, e sim nas pessoas em sua volta e em você mesmo. Extraordinário fala não só da aceitação social já tão explorada, mas sim do mais importante: da aceitação de si mesmo.

Mas não é só quem tem alguma deformidade, como o Auggie, que sofre disso. Auto-aceitação é um problema comum a todos, e nos capítulos adjacentes da Miranda, Olívia e Jack Will isso fica bem claro. Até na própria mãe, interpretada competentemente por Julia Roberts, que vivia à sombra de sua graduação incompleta. Isso dá uma bela dose de empatia com o que acontece com Auggie e com os outros personagens. Se precisamos da aceitação dos outros para nos sentir melhor é porque não aceitamos a nós mesmos. Uma bela mensagem que foi passada de forma ate elegante no filme pelo diretor Stephen Chbosky, que em 2017 também participou do roteiro de A Bela e a Fera.

Jacob Tremblay emplaca mais um bom trabalho na pele de Auggie, o ator mirim que já tinha se notabilizado por O Quarto de Jack, se destaca como um dos atores jovens de maior notoriedade da atualidade. Em Extraordinário todo o elenco trabalha de forma competente, inclusive Julia Roberts vai bem na pele de Isabel Pullman, a mãe que abriu mão de tudo pelo problema do filho, inclusive de olhar para sua outra filha também. Mas a certa morosidade das cenas também dá indícios que a direção de Chboksy não exigiu que ninguém além de Jacob saísse de seus locais de conforto.

A direção dele realmente foi algo próximo do burocrático e que gera os principais problemas do filme. Há alguns momentos de inconsistência no roteiro (que fora adaptado pelo prório Chbosky), como a falta da conversa de reconciliação entre Miranda e Olivia; Owen Wilson está bem em mais um papel de sempre dele (o carinha boa praça engraçadinho), mas que o filme e o diretor pecam pela falta de reflexão nessa figura: o pai bem-humorado e bem sucedido que, diferente de Isabel, mãe de Auggie, não abriu mão de sua vida pelo filho. E o excesso de otimismo da história, não que seja irreal que situações como as do filme (e livro) se resolvam daquela maneira positiva e de uma forma tão rápida (em apenas 1 ano de colégio), mas foi algo que passou uma ideia de ingenuidade com a própria vida real. Mas como vemos o filme na perspectiva de Auggie, é algo aceitável.

O filme acaba flertando com o otimismo e ingenuidade ao longo de sua projeção, mas, ainda assim, consegue fazer uma boa adaptação da obra literária e é bastante competente em suas mensagens principais: todos tem seus próprios problemas a serem superados e da auto-aceitação. O drama maior fez realmente falta em momentos fundamentais da trama, em que a própria história apela para a cachorrinha de estimação fazer o momento mais dramático. Enfim, entre acertos e erros Extraordinário é um filme fofo.


Extraordinário

Nota

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Daniel Gustavo

O destino é inexorável.

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