O Ben Stiller é uma figura curiosa no mundo do cinema. Ao mesmo tempo em que ele está envolvido em filmes péssimos como Zoolander 2 e Uma Noite no Museu 3, ele também atua em obras excelentes como Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe e A Vida Secreta de Walter Mitty. Ele facilmente vai da galhofa completa para comédias que são mais dramas do que qualquer outra coisa. Inegavelmente ele é um ótimo ator, diferente de outros nomes que só costumam trabalhar no lado galhofa do humor do cinema americano. O filme O Estado das Coisas é mais um desses longas que é classificado como comédia, mas é somente um drama.

Na viagem para conhecer as possíveis faculdades que seu filho irá frequentar, Brad acaba desencadeando uma série de reflexões sobre a vida. Ele está passando pela típica crise de meia idade e se sente completamente inferiorizado perante aos seus outros colegas de faculdade, ao mesmo tempo em que vê seu filho com um gigantesco potencial à frente.

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A crise de meia idade é um dos temas mais trabalhados no cinema contemporâneo quando estamos falando do gênero drama assim, como a autodescoberta. Parece que esta tal crise é uma realidade inescapável dos dias de hoje e que qualquer um que viva até chegar aos quarenta vai passar por tal momento. Existe uma série de filmes, seriados e livros que tratam exclusivamente sobre esse tema. Entretanto a crise de meia idade, e qualquer outro drama psicológico, é o tipo de tema que pode ser visto diversas vezes e ele sempre será diferente, pois cada personagem vive e sofre por motivos inteiramente diferentes.

Talvez o grande ponto fraco seja o personagem interpretado por Ben, o pai de família Brad. Ele não é particularmente pobre, nem possui grandes problemas diários ou sequer algum grande arrependimento do passado. O que gera sua crise nada mais é do que se comparar com colegas da época da faculdade que ficaram muito mais ricos do que ele, enquanto o mesmo se tornou uma pessoa classe média alto padrão. Suas dúvidas, arrependimentos e tudo que o perturba nesse filme é pautado na mera vaidade, inveja e certa dose de egoísmo. Sua crise de meia idade não é realmente profunda ou cativante.

Ao mesmo tempo em que ele é tudo isso o filme parece ter consciência disso, e em determinados momentos coloca o personagem de Brad para ser confrontado por outros, questionado-o diante da sua infantilidade. Outro fator interessante é que temos a narração direta do personagem Brad, como se estivéssemos lendo diretamente sua mente. Isso permite que o protagonista mostre diretamente o que ele sente e é completamente honesto sem medo de mostrar o lado meio sujo de sua psique. Sim ele é invejoso, egoísta e parece estar pensando completamente em dinheiro e nada mais.

Mike White é o diretor e roteirista do filme. Por mais que o nome dele não te chame atenção, ele possui uma carreira curiosa assim como Ben Stiller. Ele escreveu o roteiro de Escola do Rock, Emoji e o terceiro filme de Escolha Perfeita. Sua direção neste filme tem um ponto bem interessante que é manter constantemente um barulho de violino para representar os momentos de inquietação mental do protagonista. Seu roteiro por mais que não agrade é bastante redondo, autoconsciente e sensível aos dramas humanos por mais mesquinhos que eles sejam.

Ben Stiller mostra mais uma vez que é um ator talentoso e capaz de interpretar sentimentos verdadeiramente complexos. É aquele tipo de ator que consegue passar muita coisa simplesmente com o olhar. É realmente impressionante.  Austin Abrams interpreta o filho de Brad e sua atuação é estranha. A princípio parece que seu papel é de um jovem bastante inteligente, porém socialmente inapto e com dificuldades de se expressar e demonstrar seus sentimentos. Mas com o decorrer do filme o seu personagem é confrontado em momentos onde ele precisava demonstrar algo no campo sentimental, mas nada acontece. Abrams está excessivamente apático.

Este filme acaba sendo pautado muito em quem assiste. Em que momento você está na sua vida? O que anda sentindo? Se sente realizado? Talvez para quem esteja verdadeiramente passando por uma crise de meia idade seja realmente significativo, e para quem tem um mínimo de empatia também.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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