Assim que começou o ano de 2017 acredito que muito cinéfilo tenha feito o ritual de marcar em seus calendários a data de estreia de todos os filmes classificados como “promissores”, e tenho certeza que o último capítulo da atual saga do Planeta dos Macacos estava na lista. Sob a direção de Matt Reeves, o reboot teve início em 2011, com Planeta dos Macacos: A Origem, filme que gerou uma certa desconfiança no público por dois motivos: 1) mais uma evidência da crise de criatividade do cinema, e a franquia Planeta dos Macacos foi a “vítima” da vez; 2) o histórico de reboots de Planeta dos Macacos não é nada bom (desculpe, Tim Burton, gostamos de você e de muitos dos seus filmes, mas naquele reboot você errou a mão…).
Planeta dos Macacos: A Origem surpreendeu o público, trazendo uma excelente atuação de James Franco, mais uma atuação memorável de Andy Serkis na pele (e nos pêlos) de Caesar, um bom roteiro, contando como os macacos se tornaram os seres dominantes, e tudo calibrado com uma boa dose de efeitos especiais, sobretudo nas expressões faciais e emocionais de Caesar. O resultado foi um filme excelente!
Em 2014, a continuação da saga, Planeta dos Macacos: O Confronto, levou a trama a um outro patamar, onde Caesar tem que lidar, ao mesmo tempo, com um possível confronto direto com um grupo humano remanescente, e o macaco insurgente Koba, que tinha suas razões para ver os humanos como ameaça. Apesar de ser mais um daqueles filmes do tipo “o inimigo agora é outro”, Planeta dos Macacos: O Confronto ganhou uma carga dramática maior e mais cenas de ação (como o próprio título sugere), e foi uma boa continuação.
Muita gente tem se perguntado se é necessário ver os dois primeiros filmes pra entender o terceiro. Se você quiser ter uma experiência cinematográfica total, a resposta é sim, mas, se você não assistiu aos dois anteriores, não se preocupe: os primeiros minutos do filme entregam os pontos de modo a contextualizar o espectador no filme que se inicia, um ponto baixo que, a meu ver, empobrece a experiência de assistir aos dois longas anteriores, se você quiser vê-los depois. No entanto, ao final do filme, o que dá vontade mesmo é de ver o filme original: fazendo uso tanto de Easter Eggs quanto de cenas completas, o espectador entende porquê a mulher se chama Nova, vê as origens de Cornelius, começa a ver a divisão de castas/classes entre os macacos… Muito legal mesmo!
Mas voltemos as atenções para Planeta dos Macacos: A Guerra. Matt Reeves conduz o filme com todo o cuidado pra que este não caia na chamada Maldição do Terceiro Filme, e o faz com sucesso, a começar pelo roteiro. A guerra civil entre Caesar e Koba é interpretada como um ato de guerra contra a sobrevivência da humanidade, e, por essa razão, a guerra aberta aos macacos está declarada. Ao mesmo tempo em que procura assegurar a sobrevivência de seu bando, Caesar tenta entender por quê alguns humanos perderam a capacidade de falar e, por fim, enfrentar um líder militar linha dura apelidado de Coronel (Woody Harrelson), e aqui precisamos fazer algumas considerações sobre o vilão.
O que é um bom vilão? Segundo o argumento do nosso amigo Douglas no TarjaCast 25 sobre Esquadrão Suicida, que você pode conferir aqui, o bom vilão não é aquele que fala pra todo mundo que é mal, e sim aquele que faz maldades e, na maioria das vezes, não precisar dizer sequer uma palavra (show, don’t tell!), e é exatamente essa a forma como o Coronel é apresentado a Caesar e ao público. No início, as motivações do vilão parecem simples (assegurar a sobrevivência da humanidade), mas ao longo do filme elas se tornam mais claras, e é essa mudança que mexe com o espectador.
Andy Serkis novamente dá vida a Caesar, tentando imprimir uma expressão mais velha ao personagem, após ter passado tantas lutas, o que já aponta para um desfecho previsível, ao mesmo tempo em que faz uma referência clara à passagem bíblica à jornada de Moisés em busca da Terra Prometida. Há também um macaco perturbado por suas experiências traumáticas de quando morava em um zoológico, um personagem curioso para funcionar como alívio cômico.
Boas atuações, bom roteiro, uma boa trilha sonora sob o comando de Michael Giacchino que, em diversos momentos, lembra a trilha do filme original de 1968, e tudo temperado com referências ao já mencionado filme clássico dos anos 60: eis a fórmula do terceiro e último filme de Planeta dos Macacos: A Guerra, trazendo ao público um bom filme, com um desfecho já esperado e não tão bom quanto Planeta dos Macacos: A Origem, é verdade, mas, ainda assim, um bom filme.