Como fã de Doctor Who, acredito que não há como escrever sobre a série de forma imparcial. Há muito sentimento envolvido além de memórias marcantes que se tornaram pontos fixo na minha linha do tempo. O mesmo se aplica a produções derivadas de outras mídias, como a literatura, que conseguem alcançar um patamar de qualidade tão alto como é o caso de Doctor Who: 12 Doutores 12 Histórias. Mais do que uma grande coletânea, o livro garante a todos os leitores uma viagem incrível por todas as regenerações desse personagem fantástico.

Com histórias inéditas do cultuado personagem da série de TV britânica, Doctor Who: 12 Doutores 12 Histórias reúne contos protagonizados pelo famoso Senhor do Tempo e sua indefectível nave espacial TARDIS assinados pelos maiores nomes da literatura fantástica da atualidade.

Infelizmente, essa resenha não tem a sua disposição um espaço tão vasto como a TARDIS e por esse motivo ficarei devendo comentários sobre todas as histórias dessa maravilhosa publicação. Inclusive, chega a ser um desafio selecionar destaques de uma obra que assim como a nave do Doutor é maior por dentro. Aliás, essa metáfora encaixa muito bem para descrever seu conteúdo que é composto por uma diversidade tão rica de aventuras do famoso Senhor do Tempo.

Elogios exagerados a parte, vamos para o primeiro conto que se destaca em Doctor Who: 12 Doutores 12 Histórias. Escrito por Marcus Sedgwick, A Lança do Destino traz o 3º Doutor e Jo Grant em uma trama com viagem no tempo e personagens conhecidos da mitologia nórdica. Isso não é tudo já que também temos a participação da UNIT, um clássico vilão usando um excelente disfarce e um artefato que já teve papel importante em grandes eventos históricos. Mesmo com tantos elementos em mãos, o autor soube equilibrar bem cada um deles e nos prender a atenção do começo até o fim.

O Efeito de Propagação, de Malorie Blackman, coloca o 7º Doutor e Ace em uma aventura que traz um tema popular entre os fãs de ficção cientifica: realidades alternativas. Quem entra nesse contexto são os Daleks, mas dessa vez não como vilões. Ao serem apresentados em uma versão pacifista, eles surpreendem ao mesmo tempo em que nos deixam desconfiados. Junto com esse misto de emoções temos toda a saga do protagonista em descobrir o que ocasionou uma alteração na linha temporal e como resolver o problema, um detalhe que deixa tudo ainda mais empolgante. Para finalizar, a autora encontra espaço para transmitir uma reflexão otimista sobre o futuro.

“- Você acha isso mesmo? – perguntou Ace.

– Alguns dias atrás, eu teria dito não sem hesitar – admitiu o Doutor. – Mas agora podemos ter esperança. E, pensando bem no assunto, já é um bom começo.”

No conto O mistério da cabana assombrada, de Derek Landy, o Senhor do Tempo e Martha Jones se aventuram em uma trama que flerta com a metalinguagem e faz diferentes referências literárias como, por exemplo, Harry Potter que inclusive já havia sido citado e homenageado em The Shakespeare Code (S3E2). Isso sem falar de algumas participações especiais inusitadas que, por sua vez, se encontram brevemente em um momento bizarro e cômico. Como se isso não fosse o bastante, o autor ainda capta com maestria o senso de humor dessa regeneração do Doutor de forma que torna a leitura bem mais engraçada que o esperado. Mesmo com todo esse humor, o drama não perde espaço e a prova disso está no encerramento da história que lembra um grande momento do 11º Doutor em The Rings of Akhaten (S7E8).

Ainda no campo da referência, principalmente em relação aos grandes momentos da série, o último destaque fica para Luzes Apagadas, de Holly Black. Tendo o 12º Doutor como protagonista a história segue um molde parecido com o dos episódios mais misteriosos das temporadas estreladas por Peter Capaldi como, por exemplo, Mummy on the Orient Express (S8E8). No entanto, essa citação só serve para mostrar apenas uma camada dessa aventura. Além de toda a ação e suspense que acompanha o Senhor do Tempo e seu companheiro da vez, o que realmente torna tudo interessante é a reflexão sobre como seguir em frente mesmo com as mudanças pelas quais passamos. Nesse sentido, fica o destaque para a reflexão do Doutor nas últimas páginas que é tão impactante quanto a revelação que o mesmo teve em The Girl Who Died (S9E5):

“Às vezes, precisamos nos contar algo importante, tão importante que não dizemos de forma direta. Às vezes, só conseguimos fazer isso com um novo rosto. Às vezes, até mesmo com um rosto de que não gostamos.”

Enfim, depois de destacar cada um desses contos chego à conclusão que essa resenha mostrou apenas uma fração do que esperar dessa obra. Isso ocorre porque ler cada conto dessa coletânea é como assistir uma temporada composta por episódios especiais. Por isso, acredito que Doctor Who: 12 Doutores 12 Histórias é simplesmente uma prova literária do melhor que esse universo ficcional tem a oferecer para seu público.

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Marcus Alencar

"Palavras importam! Uma morte, uma ondulação e a história mudará em um piscar de olhos"

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