As produções originais da Netflix estão cada vez mais ousadas ao colocar suas fichas em tramas fantasiosas. A aposta da vez é Warrior Nun, que tenta fugir dos estereótipos adolescentes e desenvolver uma história de ação e aventura com elementos do catolicismo enquanto ensaia uma crítica à Igreja.

Baseada na HQ homônima criada por Ben Dunn, a série acompanha a trajetória de Ava (Alba Baptista), uma jovem que é trazida de volta à vida após se tornar portadora do Halo, uma relíquia sagrada que confere poderes especiais para quem a usa. A garota descobre que esse artefato é usado pelas freiras guerreiras da Ordem da Espada Cruciforme para lutar contra demônios que invadem o nosso mundo e que agora ela faz parte dessa organização. Porém isso não estava nos planos de Ava e ela se vê obrigada a tomar uma decisão que mudará a sua vida.

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A premissa é muito boa, com uma linguagem realista e cenas violentas que mostram que não se trata apenas de um programa focado em dilemas da adolescência. Esse é só um dos ingredientes em meio a vários acontecimentos. O problema é que o roteiro perde tempo além do necessário para desenvolver os personagens e colocá-los no caminho certo. Isso exige um pouco de força de vontade dos espectadores para continuarem assistindo e ver no que vai dar.

Grande parte da atenção é voltada para a protagonista. Ava conquistou a oportunidade de conhecer o mundo há pouco tempo e agora se vê obrigada a entrar em uma luta milenar contra demônios da qual ela não pediu para fazer parte. Por outro lado, ela é impulsiva e egoísta, com um senso de humor ácido. Sua personalidade desperta sentimentos de amor e ódio, pois ao mesmo tempo que entendemos o lado dela, sabemos que ela poderia ser menos individualista.

A parte positiva do desenvolvimento lento é o entrosamento que isso cria entre os personagens. Conhecemos um pouco de cada um, desde o padre Vincent (Tristán Ulloa), passando pela habilidosa irmã Beatrice (Kristirna Tonteri-Young) até Shotgun Mary (Toya Turner). Esta última se destaca pelo comportamento nada convencional entre um grupo de freiras e sua postura mais agressiva diante dos problemas.

 

Warrior Nun arrisca algumas críticas à Igreja Católica e à sociedade de um modo geral no que diz respeito à sexualidade e outros temas dentro da religião. A crença em algumas figuras religiosas que conhecemos também são questionadas. Porém tudo isso é feito de forma bem discreta e sem muitos desdobramentos, pelo menos por enquanto.

O orçamento não permite grandes efeitos visuais, mas isso é compensado com a qualidade das coreografias nas cenas de ação que envolvem lutas corpo-a-corpo e tiroteios. O bom humor também é algo frequente, principalmente na interação entre Ava e Mary, o que deixa a trama mais leve.

 

Se há algum erro mais relevante na produção, é a escolha de encerrar a temporada em um momento que merecia pelo menos um desfecho parcial. Ficam muitas perguntas sem respostas com o intuito de criar expectativa a respeito da próxima temporada, mas o resultado é uma quebra do clímax bem frustrante, assim como acontece no fim da primeira temporada de Titãs.

Só nos resta esperar para ver se a Netflix irá renovar Warrior Nun. A série já apresenta potencial agora e tem chances de se tornar muito melhor futuramente se decidir tomar uma postura mais assertiva com relação a seus personagens e à proposta ousada de mexer com elementos polêmicos dentro de um contexto religioso que já conhecemos.

Assista ao trailer:

Conheça a HQ que deu origem à série (edição em inglês)

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Mozer Dias

Engenheiro por formação, mas apaixonado pelo mundo da literatura e do cinema. Se eu demorar a responder, provavelmente estou ocupado lendo ou assistindo a um filme.

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