Aqui no site Tarja Nerd nós temos três podcasts diferentes. O “prato principal’, o Tarjacast que se propõe a poder analisar todos os recantos da cultura pop e suas ramificações (e umas galhofinhas vez ou outra porque ninguém é de ferro). O Tarja Futebol Clube que sai toda quinzena abordando os principais temas recentes do esporte em questão. E, por último mas não menos importante, o também semanal Toot que tenta mergulhar de forma mais profunda em discussões culturais relevantes e/ou atuais. Assim como nós, aqui do site, existe uma série de outros programas que abordam cultura pop, mas, de modo geral, temos um mar de podcasts nacionais que falam sobre tudo que você possa imaginar e com uma qualidade surpreendente de edição e conteúdo para produções quase 100% amadoras na maioria dos casos. Apesar de ter apenas pouco mais de dez anos no Brasil o cenário de podcasts por aqui já é bastante rico, onde temos um pequeno número de programas que são nacionalmente conhecidos, alguns famosinhos e uma infinidade de títulos que são completamente desconhecidos. Tal situação nos faz pensar: porque essa mídia ainda não estourou no Brasil?

As outras mídias

Publicidade

No início da cultura de internet nacional o que era relevante eram os blogs/sites de humor. Portais que publicavam vídeos, textos e tirinhas, onde na maior parte temos conteúdos de terceiros (o vídeo de um gato tocando piano) sendo compartilhado e viralizando. Os primeiros grandes nomes da internet surgiram nessa fase e popularizaram a ideia do brasileiro entrar em seu computador para buscar algum tipo de entretenimento. Depois surgiu o Facebook e o Youtube. No primeiro temos a reunião de diversos conteúdos, e o usuário dessa rede social desenvolve uma enorme preguiça para buscar qualquer coisa que seja fora do Facebook. O Youtube começou como uma grande oportunidade para qualquer produtor de conteúdo que desejava fazer algo diferente, possibilitando a criação das verdadeiras celebridades de internet que são incrivelmente famosas até hoje. A plataforma foi se desenvolvendo e gerando novos criadores de todos os tipos. O que eram os blogs até alguns anos atrás agora é o Youtube. Existem canais sobre tudo que você possa imaginar, o problema é que para se manter neste universo é preciso seguir regras limitadoras da própria plataforma que acabam padronizando o formato e estilo do conteúdo. Isso gerou o cenário que temos hoje. A situação já virou uma piada com coisas do tipo “trolei minha mãe”, “Taquei fogo em algo e olha no que deu” e por aí vai. O que antes era a chance de ver algo realmente único e original se tornou um reino de mesmices. Obviamente que existem ótimos youtubers que fazem trabalhos excelentes (eu sou fã de vários), mas eles claramente são uma minoria diante do que é produzido atualmente na plataforma. Paralelo a tudo isso segue o podcast, que não está preso a nenhuma plataforma específica e demanda uma certa pro-atividade do consumidor da mídia que precisa ir até o site ou o feed do podcast toda vez que sai um novo episódio. Ele precisa ter o mínimo de vontade de buscar o conteúdo, o que para a maioria das vezes é uma simples clicada para baixar no seu aplicativo de podcast. Para muitos isso já se mostra uma tarefa árdua e “dá preguiça”. Porque baixar um programa sem nada para assistir se eu posso ver mais um vídeo de dez minutos? O que nos leva para o próximo ponto.

O formato

Desde que a TV se popularizou nos lares do mundo começamos a entrar numa era cada vez mais visual de entretenimento. O jornal gradativamente deixa de ser lido para ser visto na TV, as rádios novelas se tornam novelas na telinha, e até mesmo o livro se tornou secundário diante da sua adaptação para o cinema. Hoje temos os vídeos para internet que para muitos se mostram muito mais interessantes do que a maioria de programas de televisão. Todo esse cenário faz com que o podcast seja naturalmente retrógrado por ser “limitado” ao áudio. De modo geral, acredito que o público acabou por se viciar completamente em estar sempre “vendo” algo. Muitos não conseguem entender que o verdadeiro propósito do podcast é consumir algo quando seus olhos estão em outro lugar. Lavar louça, andar de metrô e ônibus, fazer compras no mercado e até mesmo um emprego que se baseia em tarefas repetitivas. O podcast não é uma mídia que demanda que você sente e assista, ela se acomoda conforme suas necessidades e transforma os momentos mais chatos do dia em pura diversão. Aquele que adota o podcast na sua vida pode subitamente perceber que o engarrafamento não incomoda mais; se pegar triste porque a estação que ele precisa saltar já chegou e que filas não são mais um sacrifício. Entretanto, o “vício” no visual, limita completamente a maior parte do público que não consegue ter o mínimo de atenção em algo que não seja luz sendo projetada em seus olhos. 

Patrocínios

Outra coisa que dificulta a realização dos podcasts e mantê-los no ar. Uma pequena quantidade de pessoas recebe algo pelos seus programas, seja com patrocínio ou investimento direto dos ouvintes. De um lado temos o completo desconhecimento do pessoal de publicidade dessa mídia que só reconhece o talento dos programas mais famosos. De modo geral, o investimento de publicidade na internet se dá no Youtube com produtores que, às vezes, nem tem números tão expressivos quanto alguns podcasts que nunca conseguiram um patrocínio em sua vida, mesmo sendo muito populares. Não sei dizer se essa falta de investimento se dá pelo simples desconhecimento da mídia e seus números, ou pela falta de confiança nela. O que muitos não percebem é que o público de podcast, além de ser extremamente fiel, realmente se importa com a opinião daqueles que produzem o podcast. As pessoas realmente querem saber se os produtores de conteúdo tem algum livro, filme ou serviço para indicar. Talvez um dos poucos públicos que realmente espera uma propaganda a cada episodio e se importa com ela.

Duração

A mídia podcast no Brasil se estruturou de um jeito onde os programas contam com pelo menos três apresentadores, em média, e com durações para além de uma hora em boa parte dos casos. Se boa parte do público acha vídeos no Youtube com quinze minutos algo assustadoramente grande, imagine um cast abordando um tema até a raiz durante uma hora e meia? O que muitos não entendem é que o cast não precisa ser ouvido sempre de cabo a rabo de uma vez só, e que muitas vezes a proposta é justamente ir além do superficial. Obvio que existem muitos casts que são mais curtos e não se propõem aprofundar em nada, mas, de modo geral, o cast gera uma relação mais longa de consumo com o material que é produzido. Geralmente o público médio não consegue aceitar a ideia de um conteúdo muito longo, o que é irônico, pois boa parte do público do Youtube passa cerca de duas horas vendo vídeos consecutivos, ou fica quatro horas sentado em frente ao computador, mas torce o nariz para um podcast de uma hora que ele pode ouvir em qualquer lugar com seu celular. As pessoas simplesmente desconhece o podcast, logo não sabem como consumi-lo. 

Relação publico e criadores

Conforme o Youtube foi crescendo e criando verdadeiros ícones, ocorreu um natural distanciamento entre público e criadores. A partir de um momento que um canal começa a ter mais de um milhão de inscritos fica difícil manter uma relação direta com aqueles que consomem o conteúdo. Ler os comentários fica algo cada vez mais árduo, os seguidores nas redes sociais são bastante inflados. Problemas que só grandes celebridades realmente possuem. A mídia podcast já possui uma realidade diferente. São poucos os casts que possuem um problema semelhante, pois a maioria consegue manter uma relação direta com os seus ouvintes. Isso ocorre até na leitura de e-mails e se estende, em alguns casos, a grupos em redes de mensagem com conversas diárias. Talvez se o podcast realmente venha a explodir no Brasil essa realidade deixe de existir, mas acredito que isso não vá ocorrer. Culturalmente o ouvinte do podcast tende a ser mais educado e deseja uma interação honesta com seu podcast favorito. É bem mais difícil encontrar comentários do tipo “que lixo”, “perdi x minutos da minha vida” e coisas do gênero. Não estou dizendo que o ouvinte de podcast é um santo e perfeito, mas é evidente que a relação do ouvinte e produtor é bem mais construtiva e saudável. O comentarista, de modo geral, virou o símbolo de tudo de pior que existe na internet. Diversos Youtubers já fizeram vídeos manifestando o quanto a área de comentários é um lugar deprimente e, por vezes, inútil devido aos que lá habitam. Uma vantagem absurda para fazer o podcast efetivamente se mostrar relevante e provar que ele é comercialmente viável. É talvez uma das mais raras mídias onde a área de comentários é um lugar produtivo e de verdadeira interação com o ouvinte e aquele que detém o microfone. 


Acredito que o que foi apontado nesse texto é que o podcast nacional é uma mídia que já tem as principais peças necessárias para explodir. Temos produtos de qualidade, público cativo, exemplos de casts altamente relevantes e uma estrutura de internet que permite um episódio ser baixado no celular em qualquer lugar. Então voltemos a pergunta: Porque O Podcast É Uma Mídia Tão Invisível No Brasil?

Acredito que os dois fatores principais repousam no fato da publicidade não ter se dado conta da mina de ouro que pode ser essa mídia e no convencimento de um público altamente condicionado ao visual de que um entretenimento puramente sonoro também é tão bom quanto. Essa pro-atividade de ir atrás de um cast é fundamental para deslanchar todo esse universo. Tal coisa só pode ser resolvida por aqueles que já são ouvintes. Indiquem podcasts, troquem links e feeds. Busquem programas novos e explique o que é podcast para quem não conhece. Só assim essa mídia vai finalmente acontecer. Pelo amor de deus não tenha a atitude hipster escrota de não desejar que o podcast que você goste faça sucesso para que ele seja Cult, eventualmente o programa que você tanto gosta vai acabar porque ninguém produz conteúdo “no amor” para sempre. Uma hora ele vai desistir se continuar anônimo. Use esse texto como incentivo para indicar podcasts. Como prova de como acredito nisso deixarei listado aqui alguns programas que escuto regularmente e sou fã, sendo famosos ou não, pois acredito na colaboração mutua. Os links levarão às paginas respectivas de cada podcast. E não se esqueçam de conferir os casts do site Tarja Nerd e assiná-los em seus feeds.

Não Ouvo e derivados

Podcrastinadores

Bobos sem Corte

Confins do Universo

Grande Coisa

República do Medo  

LeituraCast

O Vicio

Pensando Rpg

Rolando 20

 

Publicidade
Share.
Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

Exit mobile version