Todas as culturas do mundo possuem rituais para se despedir de seus mortos. É um processo que o ser humano cria para lidar com a morte e o sentimento de luto. Curiosamente, o que deveria suavizar o sentimento de perda acaba criando hábitos assustadores, principalmente quando observamos culturas diferentes. Também existe o fator do tempo, pois uma mesma cultura pode criar e abandonar hábitos funerários com o decorrer de sua história. O filme A Noiva explora um desses hábitos que surgiu quando a fotografia começou a se popularizar pelo mundo.

No século XIX muitas pessoas acreditavam que o negativo das fotos era capaz de capturar a alma de uma pessoa que havia acabado de morrer. Um fotógrafo tenta resguardar a alma de sua falecida esposa dessa forma, mas acaba gerando uma maldição que ecoa até os dias atuais. Uma garota acaba de se casar com um rapaz que é membro de uma família que está associada a esse antigo fotógrafo e, por consequência, com a maldição gerada por ele.

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Antes de qualquer coisa é preciso dizer que a cabine de imprensa para qual o Tarja foi chamado exibiu o filme dublado em inglês, sendo que a língua original é o russo, e com legendas em português. A dublagem em inglês é deplorável e, por vezes, até atrapalha um pouco a compreensão das cenas. Falas desconexas com movimentos labiais e interpretações que não condizem com o que está se passando. Logo não farei comentários sobre os atores e seus desempenhos. Não sei se o filme será exibido assim nos cinemas, mas espero que não, pois o trabalho de dublagem em inglês ficou péssimo.

As primeiras cenas do filme se passam no século XIX e até possuem um clima levemente interessante, apesar de bastante confuso no propósito dos personagens. O único momento tenso e com alguma possibilidade de gerar medo acontece logo na primeira cena. Assim que o longa vai para o mundo contemporâneo, inicia-se um festival de clichês num fiapo de roteiro. Algumas falas são tão absurdas que parecem piadas de tão incongruentes com a história. O filme não preza por qualquer coerência interna.

Num filme de terror é necessário que os elementos sobrenaturais possuam o mínimo de lógica, por mais que tais eventos não sejam de origem natural, não significa que eles não devam obedecer a nenhum tipo de lógica interna que deve ser estabelecida pelo roteiro ou pela direção. A Noiva é completamente incapaz de seguir esse preceito básico que toda a narrativa precisa. A maioria dos personagens tomam diversas atitudes sem sentido e sem propósito, dentro de uma trama que lá no fundo não existe ou que não possui nenhuma lógica, aliás, o filme termina com vários pontos não explicados que são simplesmente ignorados.

A protagonista interpretada por Victoria Agalakova é completamente passível e aceita diversos absurdos impostos a ela sem questionar. As antagonistas desejam executar um plano maligno, mas se contradizem o tempo todo, além de dizerem diversas frases que se mostram sem nenhum significado. Tudo é tão mal contado e construído que beira ao ridículo e consegue arrancar risadas não intencionais.

No quesito terror o filme falha igualmente. Talvez o único ponto positivo é ele não abusar do jumpscare. Entretanto, a figura sobrenatural em questão possui um visual excessivamente comum e possui uma participação diminuta. Quando participa, nada faz de interessante e também acaba tomando um tom acidentalmente cômico. Poucos são os momentos tensos do filme, mas eles perdem o seu propósito devido ao desastre que é esse roteiro.

Mais uma obra para entrar para a lista de piores filmes do ano. Um terror que falha em quase todos os sentidos. Imagino que a única coisa que faça alguém ir até o final da exibição é ter algumas respostas para os mistérios levantados, mas alguns são deixados em aberto e as respostas que temos não satisfaz.


A Noiva

Nota

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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