Já tivemos a oportunidade de falar aqui sobre um dos jogos que integram a longa lista de títulos da aclamada franquia Castlevania, desenvolvida pela Konami nos anos 80 e 90 e que fez muito sucesso entre os gamers naquela época.

Não foi necessário aguardar “100 anos até que as forças do Bem misteriosamente se enfraquecessem” pra que os nomes Drácula e o Clã Belmont voltassem à tona. Primeiro foi anunciado que seriam produzidos novos jogos de Castlevania pra Xbox 360 e PS 3, que foram os jogos da série Lords Of Shadow. Poucos anos mais tarde, a Netflix anunciou que Castlevania seria adaptada em uma série (cuja notícia você pode conferir aqui). 

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A notícia de que seria concebida uma série sobre o universo de Castlevania levantou diversas especulações. O roteiro seria pautado em que jogo da saga? Será que vai ser sobre Castlevania: Symphony Of The Night, tido por muitos como o melhor jogo da franquia até hoje? Ou será que teria alguma relação com Lords Of Shadow?

Tais perguntas foram sendo respondidas aos poucos, sobretudo depois que saiu o teaser da série (que você também pode conferir aqui): estávamos, então, à espera de uma animated série cuja trama contaria a história do primeiro Belmont a derrotar Drácula, a saber, Trevor Belmont, que, em sua jornada, contou com a ajuda de Alucard, filho do Conde Drácula, que tinha lá os seus motivos para enfrentar o pai, e também de Sypha, uma feiticeira que integra uma ordem chamada de Oradores. Ficou claro, então, que o roteiro seria baseado em Castlevania III: Dracula’s Curse, o prequel desenvolvido em 1989 para Nintendinho (NES), sendo que ainda faltava o terceiro e último aliado de Trevor Belmont na trama… Enfim.

Há quem diga que a Netflix tem se especializado de tal maneira em conceber suas séries que já se fala em um “padrão-Netflix“. Primeiro, anuncia-se uma temporada e, pouco depois, já se fala em uma nova temporada, como foi o caso de 13 Reasons Why, por exemplo, cuja crítica você também pode conferir clicando aqui. A duração dos episódios variam de série para série, mas dificilmente passam de 1 hora de duração, e as temporadas têm poucos episódios. Já esperávamos que Castlevania teria uma temporada curta, sim, mas não imaginávamos que seria tão curta! Em poucas palavras, “o que é uma animação de Castlevania?! Uma pilhazinha miserável de 4 episódios de 20 minutos cada!“, diria o Drácula de Symphony of the Night, com certeza.

Acredito que, ao longo dos TarjaCasts, já tenha ficado claro que animes não são muito o meu gosto, mas tenho que me pronunciar quando o anime em questão é Castlevania. O traço do desenho me lembrou um bocado do Animatrix, sobretudo as feições de Trevor Belmont. Em alguns momentos, parecia que os salões do castelo eram filmados, e não um desenho. Os momentos de derramamento de sangue beiram gore, o que se justifica quando lembramos que, originalmente, o autor Bram Stoker se baseou numa figura histórica real notoriamente cruel para criar Drácula, que foi o Conde Vlad III, apelidado de “Vlad, o Empalador”…

Que, por falar no diabo (no caso, no vampiro), Drácula aparece pouco (basicamente no primeiro episódio), mas aparece o suficiente. Vendo que os humanos são extremamente supersticiosos e que, em nome dessas superstições, cometem atos terríveis, Drácula se isola em seu castelo, até que outra personagem entre em cena… É nesse momento que vemos a apatia de Drácula pela humanidade se transformar em ódio, fechando o círculo das motivações e da psiquê do vilão.

Trevor Belmont encarna um fanfarrão que, depois de um ato de bravura (libertar Sypha), recebe conselhos de um velho ancião (o líder dos Oradores) para lutar em nome de uma causa maior. Clichê? Sim, é verdade, mas, ainda assim, é um recurso de roteiro que funciona para o propósito inicial da série, que é “reunir o time” Trevor/Sypha/Alucard, sendo o filho de Drácula o último a integrar a equipe. É digno de nota o quanto Warren Ellis se apropriou de Castlevania: Symphony of the Night para criar os trejeitos elegantes, sóbrios e carregadamente apáticos de Alucard, fazendo dele o personagem mais marcante de todos. Aquela cena da luta ficou muito maneira!

Apesar do bom roteiro, dos bons gráficos e de reunir os personagens de modo a fazer a trama funcionar, teve um único “elemento” de Castlevania que não apareceu em momento algum na série, e tenho certeza que a ausência desse “elemento” fez muito fã chorar “lágrimas de sangue”… pronto, entreguei o elemento que faltava: trilha sonora!

Como assim, Castlevania sem Bloody Tears? Sem Vampire Killer? Sem Beginning, que é o carro-chefe da trilha de Castlevania III: Dracula’s Curse? Poxa, poderiam ter feito algo parecido com o que Michael Giacchino fez na trilha sonora de Rogue One, soltando uma ou outra frase musical que lembrava a trilha sonora clássica composta por John Williams… Por falar nisso, temos aqui um TarjaCast sobre Rogue One, e aqui um TarjaDrops sobre John Williams.

Mas voltando ao castelo de Drácula, Castlevania tem aspectos únicos em suas trilhas sonoras, a começar pelo jogo da franquia lançado pra Nintendinho (NES) em 1986. Na época, os video-games eram território exclusivo dos marmanjos, e isso se aplicava em todos os sentidos. Os consumidores eram na maioria do sexo masculino, da mesma forma que os jogos eram concebidos por e para marmanjos, até que uma mulher pioneira no universo dos games chamada Kinuyo Yamashita quebrou paradigmas, criando para o jogo em questão uma trilha sonora que é celebrada e influente até hoje.

Há também uma outra curiosidade sobre a relação visceral entre Castlevania e a música, que são os subtítulos dos jogos: Rondo of Blood, em referência a “rondó”, que é uma peça musical geralmente composta para fins de desfecho de uma sinfonia, com um refrão intercaladamente repetido; Aria of Sorrow, onde “árias” são peças musicais com um único cantor solista; e, claro, Symphony of the Night, onde “sinfonia” é uma composição orquestral com quatro movimentos característicos: alegro, andante, minueto e rondó.

Apesar de ter deixado uma lacuna imperdoável em relação à trilha sonora, Castlevania: A Série Animada tem uma boa trama, boas sequências e, ao final, cumpre bem o que prometeu: prestou um tributo à franquia da Konami e ofereceu uma boa diversão para dois tipos de público. Um é o de uma geração mais nova, que pode não ter jogado os títulos da franquia mas está sempre no Netflix caçando séries novas para assistir, e o outro é o de uma geração de Nerds mais “experientes”, que acompanharam os jogos nos anos 80/90.

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