Tijolômetro – Chespirito: Sem Querer Querendo
Poucos programas na TV aberta marcaram tantas gerações quanto Chaves e Chapolin Colorado, principalmente no Brasil. Não apenas esses personagens, mas a mente criativa por trás deles também entrou para a história do entretenimento: Roberto Gómez Bolaños. A missão de Chespirito: Sem Querer Querendo é contar a trajetória do homem e do artista responsável por esses grandes sucessos. E a conclusão a que chegamos é que não devemos conhecer tão a fundo nossos heróis.
Alternando entre a vida pessoal e a profissional, a minissérie em oito capítulos reimagina parte da carreira de Gómez Bolaños (Pablo Cruz) desde sua infância até se tornar um ícone da comédia na América Latina graças à turma do Chaves e às aventuras do Chapolin.
O grande mérito de Sem Querer Querendo é usar a dramaticidade para relacionar os fatos da vida íntima de Roberto com seu processo criativo singular. Assim, vemos como a criação de seus personagens mais marcantes é diretamente inspirada por acontecimentos que vão desde seus tempos de criança até sua relação com a esposa e os filhos. Mesmo havendo certa licença poética, não dá para negar a genialidade do protagonista que, em dado momento, é chamado de pequeno Shakespeare — ou Shakespearito, de onde vem a alcunha Chespirito.
Seu talento lhe abre várias portas até alcançar o sucesso, mas percebemos desde cedo o ego inflado e a necessidade de estar sempre no controle das coisas. Esses detalhes de sua personalidade — que ficam evidentes até mesmo em sua autobiografia — explicam o relacionamento conturbado que ele tem com alguns colegas de trabalho.
Dentre as relações problemáticas que Sem Querer Querendo aborda, as mais polêmicas envolvem outras duas figuras ilustres do elenco de Chaves: Carlos Villagrán e Florinda Meza. Os intérpretes de Quico e Dona Florinda têm seus nomes alterados na obra e passam a ser chamados de Marcos Barragán (Juan Lecanda) e Margarita Ruíz (Bárbara Lopéz). Isso acontece porque ambos não participaram da produção e essa foi a forma legal que o roteiro encontrou de retratar o papel dos dois na vida do protagonista.
Contudo, o fato de dois filhos de Bolanõs — Roberto e Paulina Gómez Fernández — estarem envolvidos na produção da minissérie fornece um olhar parcial sobre essas desavenças de bastidores. Apesar de não isentar totalmente o pai deles da culpa, a narrativa é tendenciosa ao mostrar Villagrán e Florinda como os “vilões”.
Ignorando-se as polêmicas, é preciso reconhecer o excelente trabalho de Pablo Cruz interpretando o personagem-título, não apenas pela caracterização fiel, mas também por sua atuação. Porém, quem se destaca nesse quesito é Paulina Dávila como Graciela, a primeira esposa de Bolanõs e mãe de todos os seus seis filhos.
A HBO Max idealizou o programa para o formato de uma minissérie, o que reduz as chances de haver uma segunda temporada. Entretanto, o desfecho com ares de recomeço deixa claro que ainda há muitos fatos sobre a vida de Roberto que ainda não foram mostrados e que provavelmente não veremos.
Chespirito: Sem Querer Querendo mostra que até mesmo um ícone amado por multidões tem seus defeitos, por mais que o roteiro e a influência da família tentem amenizá-los. Mesmo assim, o programa não muda o fato de que Chaves e Chapolin fizeram, e continuarão a fazer, parte da vida de milhões de fãs apaixonados pelo trabalho de Roberto Bolanõs.
Assista ao trailer:
Conteúdo relacionado:
Fique por dentro das novidades!


