Em 2009 Danilo Gentili publicou uma espécie de manual que se intitula capaz de tornar qualquer um no pior aluno da escola. A publicação não passava de uma grande brincadeira com textos e artigos que tinham a proposta de falar diretamente com os jovens que estão desinteressados no colégio ou desgostosos com o sistema educacional. A obra é bastante juvenil e despretensiosa, com ilustrações divertidas no melhor estilo revista Mad. Partindo deste conceito, o diretor Fabrício Bittar, em conjunto do roteiro com Gentili, criaram uma narrativa em cima desta ideia de se tornar o pior aluno da escola. Antes que você embarque na crítica em si, saiba que o Tarja foi um dos convidados na cabine de imprensa onde estava presente o diretor e Danilo, onde eles contaram bastidores e a experiencia de fazer o filme.

Pedro está com problemas com as notas do colégio e correndo o risco de ser reprovado. Enquanto está no banheiro vomitando de nervoso devido a sua situação, ele encontra uma caixa que supostamente é de um ex-aluno do mesmo colégio. Lá ele encontra um caderno que ensina detalhadamente tudo que alguém precisa para ser o pior aluno da escola. Acreditando que o autor de tal caderno pode ajudá-lo a colar na prova final, Pedro e seu melhor amigo Bernardo vão atrás desta misteriosa figura.

Danilo encarna justamente esse mestre que traz para a vida dos garotos esse olhar rebelde contra o colégio e o mundo considerado padrão e certinho. Toda a base do filme é nos dois garotos buscando uma vida mais divertida no meio das regras e responsabilidades. Para alcançar esse objetivo esse filme faz uma viagem por um universo de fantasias adolescentes. Esse filme é uma grande realização de tudo que garotos pensam e secretamente desejam fazer em suas vidas ordinárias. Obviamente que em alguns momentos muitos desses elementos são um tanto bobos e ingênuos, mas o roteiro é cheio de pequenas coisas interessantes e que encontra certa ressonância nesse universo juvenil.

A direção de Fabrício é muito competente, principalmente levando em conta que este é seu primeiro longa, apostando em cortes e movimentações bastante ágeis e com uma identidade visual muito interessante. As vezes ele exagera um pouco na velocidade das cenas, mas, de modo geral, funciona muito bem. As atuações são razoáveis e o filme se vale muito da presença de Carlos Villagrán (o eterno Quico) que conseguiu transpor a barreira linguística e se faz entender mesmo com um português tão carregado de sotaque, mas, por vezes, as cenas são um pouco performáticas demais, até exageradas, mas que acaba passando devido a estética do filme, que é bastante estilizada. A atuação dos dois atores que fazem Pedro e Bernardo, por vezes, é meio robótica e fica claro que eles estão reproduzindo um texto, mas conseguem carregar o filme sem muitos problemas.

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O humor de Como Se Tornar O Pior Aluno Da Escola se entrega totalmente ao que hoje classificamos como “politicamente incorreto” e glorifica tudo que seria considerado errado. Entretanto, consegue ser um filme até bastante leve no que diz respeito à escola. O tom exagerado também suaviza todas as mensagens como “sacaneie seus professores”, “copie trabalhos da internet” e coisas do tipo.  Certamente o filme vai esbarrar em algo que você julga errado, como ocorreu comigo, mas essa é justamente a proposta. O filme é transgressor e se orgulha a cada momento disso, obvio que de forma totalmente “rebelde sem causa” apesar de tentar passar uma mensagem crítica sobre o sistema educacional e o suposto excesso do politicamente correto nos dias de hoje. Também temos muitos momentos que caminham para o escatológico e escrachado, algo que acaba funcionando aqui. Em dados momentos o filme faz leves desviadas para momentos realmente “errados” e possivelmente chocantes para muita gente, devido o filme se tratar de jovens menores de idade. O limite deste humor estará dentro de cada um dos espectadores, mas devo dizer que achei condizente com a proposta geral.

Sinto que esse filme toca muito em questões particulares. Sei que existe o jargão bobo de “comédia é pessoal”, mas acredito que especialmente nesse caso isso ressoa mais. O quão você vai achar graça deste longa parte de como você enxergava a escola e como foi sua experiência neste momento na vida, além de sua opinião sobre este eterno debate do que é bulling e se realmente existe algum exagero no quesito “politicamente correto”. Entretanto, não posso dizer que o filme não é honesto em sua proposta e não abre mão do que tem a dizer, gostando ou não do que foi dito, conseguindo até, de certa forma, ser um ponto fora da curva nas comédias padronizadas que o Brasil costuma produzir. Pessoalmente eu não concordo com muitas ideias que o filme coloca, mas consigo entender o porquê da proposta “jovem revoltado” que o filme glorifica.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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