É fato conhecido que os grandes filmes tendem a sofrer com suas continuações, principalmente no temido último filme de uma trilogia. A primeira trilogia do Aranha não escapou dessa maldição. Sam Raimi é o diretor, mas se rendeu aos enormes apelos dos produtores do filme, que queriam tudo maior. O cinema americano constantemente confunde quantidade com qualidade e foi esse um dos principais problemas deste filme, mas não foi o único.

Após os eventos de Homem Aranha 2, Peter finalmente está conseguindo conciliar sua vida de super herói e pessoa comum. Em fim conseguiu criar um relacionamento com Mary Jane e se ajeitar financeiramente. Entretanto três eventos chegam para balançar sua vida: a volta de um dos homens que assassinou o seu tio, a vingança de Harry Osborn e a chegada do simbionte alienígena que gruda em seu uniforme.

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Já na sinopse podemos perceber o maior erro desse filme. Ele é lotado de eventos e simplesmente não existe tempo de tela para todos eles. A chegada do simbionte alienígena, que modifica toda a história, é feita da forma mais patética possível. Um meteoro cai do céu (do lado de Peter) e de lá sai uma gosma preta que gruda nele aleatoriamente e fica por isso mesmo. A transformação de humor do Peter também é muito mal planejada por parte de Sam, que em sua visão era algo cômico e tentou associar a roupa preta do herói com o movimento emo que estava em voga na época.

A grande vingança de Osborn, que estava sendo construída desde o final do primeiro filme, foi completamente jogada de escanteio devido ao excesso de tramas. O que poderia ser a grande finalização de um arco acabou virando uma conclusão porca de uma historia de personagem secundário. A versão do Duende Verde de Harry é completamente esquecível e no máximo rende uma cena interessante de ação, mas que acaba não dando em nada.

Outra péssima ideia foi tentar associar o vilão Homem Areia com o assassinato de Tio Ben. De modo geral, o cinema tenta associar heróis e vilões como se eles estivessem predestinados ou algo do gênero, e, para isso, o vilão acaba sendo inserido na origem do herói. Tim Burton fez isso em seu primeiro filme do Batman, e isso sempre incomodou muito os fãs. O roteiro deste filme comete esse mesmo erro e ainda por cima faz isso com um vilão bem pouco relevante. Apesar de Thomas Haden ter uma boa atuação, e possuir um drama pessoal bacana, associá-lo a morte do Tio Ben para criar um apelo emotivo é um dispositivo de roteiro muito forçado.

Talvez a palavra que resuma esse filme seja “aleatório”. Um alienígena cai aleatoriamente do céu e altera a personalidade de Peter para um emo dançante. Gwen Satcy é introduzida sem nenhum motivo na trama para criar um drama romântico que resulta em Mary Jane flertando com Harry, que no final das contas não dá em nada. Venom surge basicamente por que Peter quebra a câmera de Eddie Brock e ele fica com raiva.

A única coisa que parece salvar são algumas cenas de ação interessantes. A primeira luta de Homem Aranha e Homem Areia, o ataque de Harry quando Peter esta distraído no meio da rua, a luta do Aranha com uniforme negro no metrô. Por outro lado a grande luta final fica sem significado, pois o filme não construiu a conexão emocional ao longo do primeiro e segundo ato. Por mais que tenhamos um Homem Areia gigante espancando o Homem Aranha que estava amarrado pelo Venom, nada disso acaba significando. Todas as sutilezas de metáforas do primeiro e do segundo filme somem no meio desse caos de histórias que não dão em nada. No fim acabamos tendo um filme cheio de informações, mas elas juntas não contam uma boa história.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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