Filmes sobre intimidade podem ser muito difíceis de apreciar, pois é necessária uma dose de voyeurismo. É preciso estar disposto a viver um pouco a vida dos outros e se importar com detalhes e pequenezas de mundos que não são nossos. Alguns acham delicioso esse tipo de filme, outros acham absurdamente entediantes, mas a verdade é que é preciso um roteiro e direção muito cuidadosos para fazer com que a menor das histórias pareça incrivelmente interessante.

No verão de 1983, no norte da Itália, o jovem Elio começa a se interessar pelo amigo do seu pai que veio visitá-lo nas férias. Dentro deste cenário idílico, ele começa a se descobrir sexualmente e experimentar as primeiras sensações sobre o amor e o início da vida adulta.

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Este é basicamente um filme sobre relacionamento. Vemos este amor surgindo e se desenvolvendo a cada cena. O filme é baseado no livro de mesmo nome do autor André Aciman. De cara, podemos dizer que esta é uma história muito original. Não pelo fato de abordar um romance entre dois homens, mas pela forma que faz isso. Essa não é uma trama sobre se assumir gay, aceitação ou preconceito. É pura e, simplesmente, uma história de amor, que por acaso são de dois homens. A única preocupação deste filme é narrar como essas duas pessoas se apaixonam.

A direção de Luca Guadagnino é totalmente precisa nessa proposta. Ele sabe que a beleza dessa história está nos detalhes. Ele não tem pressa nenhuma em andar com os fatos e gasta alguns minutos com olhares, cenas soltas, e conversas que aparentemente não possuem propósito, mas contam, de forma bem lenta, o surgimento deste amor.

O “problema” é que, por vezes, isso é muito lento e pode chegar a ser entediante. Duas horas e doze minutos parecem ser demais para uma história que não é calcada em fatos e sim em pequenos momentos. Tudo é bem arrastado e sem pressa, como a eterna tarde de verão que esse filme se propõe a ser. Tudo é muito poético e todas as conversas são carregadas com uma dose de lirismo.

As atuações são incríveis. Timothée Chalamet é o jovem protagonista que passa por todas as fortes emoções que a chegada da vida adulta proporciona. Mesmo em silêncio, ele consegue passar sentimentos profundos e por vezes contraditórios. O tipo de ator que passa muito com o olhar. Armie Hammer vive o americano mais velho que, de certa forma, é o sonho erótico juvenil personalizado. É incrivelmente inteligente, bonito, possui uma personalidade forte e bastante seguro de si. Também encarna muito bem seu personagem que apresenta a dificuldade de ser incrível o tempo todo e quase nunca falhar em ser o sonho juvenil do protagonista.

Visualmente o filme é incrível. Obviamente que o cenário italiano ajuda muito. Luca Guadagnino sabe aproveitar todas as belas paisagens e coloca verdadeiras pinturas na tela. Um filme muito delicado e que possui um incrível potencial em se comunicar com aqueles que estão passando pela mesma fase que Elio. Me Chame pelo Seu Nome é o tipo de filme que nos lembra o porque da inutilidade de dar notas no mundo artístico. Essa é uma história muito pessoal e que ganha significado através da vivência que cada um carrega dentro de si. Vivência sobre amor, adolescência e como encarar o mundo e as pessoas que nele vivem.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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