Não sei quantas vezes eu já falei de Stephen King neste “bendito” site, mas me vejo mais uma vez escrevendo uma resenha para um de seus livros. Os outros textos sobre o autor podem ser lidos aqui. Agora vamos à resenha de um dos seus livros de inicio de carreira, o seu segundo livro publicado para ser mais específico, em 1975. Aqui temos a visão dele para o mito clássico dos vampiros. Dividirei a obra em três partes para analisá-la, assim como a própria obra se divide.

Primeira Parte
Impressionante como King já tem um estilo tão definido em seu segundo livro. A primeira parte desta obra é o típico início de livro do autor. Vamos mergulhar na vida dos personagens de forma bastante profunda, a ponto de conhecer os medos infantis, os segredos sujos e desejos de todos os tipos. Nesse caso a ideia é mais destrinchar a cidade, e, para isso, ele vai polvilhando nossa visão em diferentes habitantes de Lot até criar uma mística no local. É como se fossemos pequenos deuses que sobrevoam o local e espiamos a vida destes humanos. Algo que King já era especialista mesmo em seu segundo livro e algo que se tornaria marcante em seu estilo de contar histórias.

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O problema é que por muitas vezes assistimos personagens pouco importantes e que não se relacionam com a trama geral. Apesar de ser eficiente nesse mergulho na ficção, a história não anda efetivamente. Páginas que poderiam ser utilizadas para desenvolver os principais personagens da trama, estes que só acabam ganhando espaço na segunda parte com a história relativamente avançada. Essa primeira parte é tão focada nesse enfoque em Lot que quase de nada sobrenatural ou assustador acontece. A ideia de que existem vampiros na cidade só começa a ser levantada com pelo menos cem páginas. Li a história numa publicação relativamente antiga, que usa o nome pela qual ficou conhecida “A Hora do Vampiro”, mas acho que o nome é um tanto equivocada, pois descobrir ao longo da trama que esta é uma narrativa sobre vampiros seria muito interessante.

Nesta primeira parte também acontece algo que eu julgo um erro, ou melhor, um avanço de revelações desnecessárias. O livro, de certa forma, começa do final. Aquele mecanismo de narrativa de mostrar o final da história para depois explicar como chegamos àquele ponto. Acho isso ruim neste livro em especial, pois ele possui um final incrivelmente impactante e seria ótimo recebê-lo sem esperar nada.

Segunda Parte
Aqui efetivamente entendemos que este é um livro sobre vampiros, além de conhecermos quem é o grupo principal que levará a história para frente. Neste momento uma semelhança interessante com Drácula começa. Chegamos naquele ponto de investigação dos ataques e entender melhor quais são as regras que regem a mitologia vampiresca desta história. Acredito que é justamente isso que é o ponto alvo do livro. King tem ideias geniais para mostrar como esses vampiros agem e cria momentos realmente aterradores, porem com ares clássicos da obra de Bram Stoker.

A construção de tensão é espetacular assim como os momentos onde vemos os vampiros agindo. Curiosamente alguns personagens fundamentais para a trama só aparecem aqui, ou só começam a ganhar verdadeiro espaço nesta parte, algo que é uma falha grave. Por que não vemos esses personagens se desenvolvendo até que todos se cruzam quando os ataques começam? Essa é a grande falha da narrativa e talvez a única desse livro, mas acaba sendo bem ruim, pois este é um livro muito calcado em personagens e conhecê-los. Impressionante como a mitologia dos vampiros criada nessa história consegue ser ao mesmo tempo bem clássica, mas ao mesmo tempo ter um toque autoral. Se você é um fã de Drácula certamente gostará desta obra.

Terceira Parte

Aqui vamos resolvendo todas as questões levantadas na segunda parte e caminhando para a grande finalização. Começa uma ação desenfreada e, apesar desta ainda ser uma história de terror que acaba ganhando contornos cada vez mais macabros e sangrentos, ela também tem uma certa dose de ação. Também lembra a parte final da história de Stoke, mas muito mais movimentada e impactante. King não economiza na violência e ideias chocantes. O vampiro realmente é um monstro terrível, implacável e assustador. Um livro que te lembra de que essas criaturas podem ser verdadeiramente aterrorizantes, algo muito interessante pois com o passar das décadas os vampiros foram ficando cada vez mais parecidos com super heróis do que com monstros.

Comparado à construção das duas primeiras partes esse final é um tanto abrupto e de fato é. Os eventos vão se desenrolando de uma forma que você fique completamente preso e não consegue parar de virar páginas. É possível que você se pegue perguntando “Mas já?” ao longo da narrativa. No final, a conclusão acaba não sendo surpreendente, pois já tínhamos uma boa noção de como tudo terminaria devido a como ele decidiu iniciar a narrativa.


O livro é ótimo e acredito que é um excelente primeiro livro para começar a ler King. Não é parado, mas, ao mesmo tempo, já dá uma boa ideia do estilo do autor para desenvolver seus personagens e a descrição detalhada para coisas aparentemente menores, mas que ajudam a construir sua história. Por outro lado, para quem já leu os grandes livros de King, esse pode parecer menos interessante e até comum comparado a Iluminado, It ou A Espera de um Milagre. Mas também se prova melhor que alguns clássicos como Christine. Um livro que merece ser lido e pode realmente entrar para a sua lista de grandes histórias de vampiro. Para um leitor fiel de King os erros que fui listando ficam visíveis, pois conforme ele foi evoluindo em sua careira essas questões foram melhorando. Se esse for o primeiro livro para alguém entrar em contato com esse autor pode ter o potencial de explodir cabeças e levar a uma coleção de outros títulos. Houve uma adaptação para o cinema em 1979 e depois algumas continuações que se afastam do livro, além de uma série de TV que reconta a mesma história. O livro foi recentemente republicado pela Suma das Letras com o título de Salem.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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