Um filme de terror nacional sempre é algo que empolga os amantes da sétima arte, pois é sempre bom ver a produção tupiniquim se arriscando em outros gêneros que não são tão comuns por aqui. “O Rastro” se propõe a ser um terror ambientado no Rio de Janeiro e se passa num hospital público caindo aos pedaços. A estrutura precisa ser desativada e cabe ao protagonista, interpretado pro Rafael Cardoso, supervisionar a transferência dos pacientes que restam, mas no meio deste processo uma menina some e assim começa uma jornada assustadora para encontrá-la.

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O filme é repleto de bons atores e atrizes como Leandra Leal, Cláudia Abreu e Felipe Camargo. O roteiro trabalha coisas muito interessantes como a burocracia pública que por vezes é um vilão tão terrível quanto à assombração que encontramos no hospital.  Existe uma crítica social interessante na obra que tenta misturar isso a uma trama sobrenatural. O roteiro é assinado por Beatriz Manela e André Pereira.

O grande problema deste longa está na direção. J.C Feyer, o diretor que faz sua estreia no longa-metragem com O Rastro, exagera de forma absurda nos clichês e técnicas de edição/direção de filmes de terror. Vamos começar falando do clichê mais básico, que é da menina fantasma. Ela é usada a exaustão, mas basicamente de uma única forma: pulando na sua cara e gritando. Basicamente todos os momentos de terror desse filme usam a técnica de jogar algo na sua cara (literalmente qualquer coisa). Quando estamos em cenas comuns ele tenta fazer a mesma coisa. Imagine um filme que sempre esta com sua trilha sonora no máximo e “grita” o tempo todo na sua “in your face” até mesmo nas situações mais banais. Chegamos ao cúmulo de uma torradeira ser usada como elemento de susto barato.

Em alguns momentos temos enquadramentos interessantes, mas logo depois somos jogados em um zoom absurdo. Um exemplo: em dado momento o protagonista descobre uma informação importante no computador. É dado tanto zoom neste momento que fica difícil ler o que está escrito na tela e ele nem consegue enquadrar as palavras na tela.  A fotografia é por vezes tremendamente escura e dificulta o entendimento do filme e até sua apreciação. Entendo uma cena escura num hospital desativado, mas é preciso fazer um jantar entre amigos no breu?

Olhando com detalhe, até o roteiro interessante também apresenta suas falhas. Diálogos que não fazem muito sentido, personagens com delírios espontâneos, fantasmas e situações estranhas que são jogadas de lado. O cúmulo são os manifestantes que desejam salvar o hospital e acabam batendo em ambulância que carrega pacientes terminais. O encerramento do filme tem uma virada muito interessante (que é explanada sem motivo no início do terceiro ato). Mesmo com todos esses defeitos ele poderia ter terminado com uma última grande cena final, mas acaba se estendo a mais uma cena que é boba e apelativa.

Não foi dessa vez que vimos o novo clássico do terror nacional. De qualquer forma é sempre interessante ver o cinema brasileiro ousando por outros caminhos, principalmente nesse caso, onde temos uma crítica social pungente e extremamente relevante.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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