Um grupo de personagens peculiares, diálogos descompromissados e cotidianos, uma trilha sonora marcante e muita violência. Essa descrição serviria perfeitamente para os filmes de um certo cineasta bem conhecido hoje em dia, mas na verdade é sobre um livro destinado a homenageá-lo. Estamos falando de Sacanas do Asfalto, do escritor Robson Gundim, que entre uma referência e outra à cultura pop, faz um singelo tributo a Quentin Tarantino.

A trama começa na estrada, apresentando os três amigos Rob, Arthur e Stefani. Os estudantes de cinema planejam curtir as férias assistindo a um show de rock na ilha de Vera Cruz com outros amigos. Porém eles não imaginavam que iriam cruzar o caminho de Dante, o líder de uma gangue de motoqueiros que está disposto a persegui-los para um ajuste de contas. A partir daí começa uma trajetória de vingança tarantinesca em todos os sentidos.

Durante a leitura, encontramos diversas referências a séries, músicas e quadrinhos, mas a obra é declaradamente inspirada nas produções de Quentin Tarantino e podemos ver isso desde referências discretas até outras mais escancaradas. Citar os nomes dos filmes e personagens é a parte mais simples da homenagem, mas a essência do cineasta está nos diálogos com um humor ácido, na violência visual exagerada e na forma como os protagonistas se apresentam, começando como pessoas ordinárias, mas aos poucos revelando seus segredos.

Nesse último quesito, quem se destaca é Sam, um negro badass carismático e desbocado. Isso te lembra alguém, motherfocker?! Quem já assistiu a Pulp Fiction, Django Livre ou Jackie Brown deve se lembrar da presença marcante de Samuel L. Jackson. Seus personagens costumam roubar a cena e protagonizar os momentos mais empolgantes. Em Sacanas do Asfalto, esse papel cabe ao Sam criado por Gundim. E fica difícil não ler as falas dele sem ouvir a voz do ator (ou então a do dublador oficial, o Márcio Simões).

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Outra característica das produções de Tarantino é a narrativa não linear, ora apresentando o que está acontecendo no presente, ora relembrando fatos passados. O mesmo acontece no livro, mas felizmente sem os exageros de alguns filmes e sempre para revelar alguma informação crucial. Isso ainda serve de base para as reviravoltas que irão acontecer e preparam o terreno para as passagens de ação sangrentas.

Levando em consideração que nem todas as pessoas conhecem o trabalho de diretor e roteirista do homenageado, é bom alertar que o romance de Robson Gundim é algo despretensioso, que exagera alguns acontecimentos (principalmente as cenas de morte) e satiriza situações com diálogos e personagens caricatos propositalmente. É para ser algo divertido e brutal e não para ser levado a sério.

Sacanas do Asfalto é uma homenagem válida que reúne os melhores aspectos dos filmes de Quentin Tarantino e ainda acrescenta um toque pessoal do próprio autor para criar uma história repleta de referências à cultura pop. Tanto para quem é fã dos filmes quanto para quem não é, na certa é uma excelente forma de se entreter.

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Mozer Dias

Engenheiro por formação, mas apaixonado pelo mundo da literatura e do cinema. Se eu demorar a responder, provavelmente estou ocupado lendo ou assistindo a um filme.

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