Assumindo a proposta de seguir os passos do solitário e problemático Harry Ambrose (Bill Pulman), a segunda temporada de The Sinner, na Netflix, estreou com a responsabilidade de manter o nível de mistério alcançado na primeira temporada (confira aqui nossa análise) e explorar mais a personalidade do detetive com algumas questões psicológicas, terapêuticas e familiares. Porém a série acaba perdendo aquele mistério surpreendente que teve na primeira temporada.

Harry Ambrose (Bill Pullman) retorna a sua cidade natal para ajudar a polícia a solucionar o caso de um garoto de treze anos que confessou ter envenenado os pais. Conforme a investigação progride, o detetive descobre segredos escondidos pelos habitantes do lugar.

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Escrita por Bradford Winters e Liz W. Garcia e dirigida majoritariamente por Antonio Campos (o mesmo do ano anterior), a segunda temporada de The Sinner mantém o tom melancólico e soturno que o caracterizou na primeira temporada. Desta vez Jessica Biel, que foi indicada à duas premiações na primeira temporada, atua na produção desta, e agora com um protagonismo total do detetive Ambrose, um arquétipo clássico do detetive quebrado psicologicamente. A atuação de Pullman na primeira temporada foi estupenda, dando trejeitos e camadas ao personagem, e nesse segundo ano Pullman volta a brilhar em seu trabalho, nos mostrando um personagem denso e cheio de traumas. A cada olhar perdido de Ambrose no meio de uma conversa percebemos seus sentimentos e pensamentos. O primeiro episódio é sem dúvidas o melhor da temporada, e louros pro primeiro ato que conta com uma das mortes por envenenamento mais sinistras que já vi.

Nos quesitos técnicos a série perdeu um pouco de sua complexidade nessa nova temporada: menos planos sequências, uma fotografia mais rústica e menos personagens interessantes. A temporada se foca bastante em Ambrose dando pouco espaço para outros personagens assumirem um papel mais importante, como foi a de Cora Tanetti  (Jessica Biel) no primeiro ano, porém temos duas outras menos interessantes agora Vera (Carrie Coon) e Heather (Natalie Paul), e o adolescente Julian (Elisha Henig) que se limita a dar alguns chiliques que teoricamente teria a ver com um controle mental desenvolvido numa seita da cidade. O que nos leva para o próximo ponto, o enredo da série.

Atingir o mesmo impacto da primeira temporada seria uma tarefa árdua, o suspense e o mistério foram muito bem elaborados e desenvolvidos ao longo dos episódios, e acima de tudo, a série tinha um contexto dramático e familiar muito forte. E isso realmente passou longe de ser alcançado nesse novo ano. O mistério foi algo muito batido, com uma trama envolvendo uma seita de um líder que pregava o “extravasar psicológico” em abuso físico tentando envolvendo questões analíticas da psicologia para buscar algum respaldo, parecendo até uma constelação familiar dos infernos (Inclusive há uma referência a Jung numa cena). Mas tudo isso é algo bem forçado e clichê para apoiar todo o mistério desta segunda temporada, e conta com inúmeros furos, como a continuidade da seita mesmo após o líder ir embora, a criança, o sumiço da mãe da criança… além d uso de um dos pretextos mais simples do século (drogas!). 

Porém no segundo plano da trama há algumas questões interessantes como transgressões contra a mulher, o preconceito contra homossexuais, abuso psicológico e traumas do passado. Pena que tudo isso fique em segundo plano, pois seria mais interessante explorar mais claramente essas questões, mas elas estão ali, presentes para um bom observador compreender. Porém o que mais desperta interesse no espectador é o detetive Ambrose e como que esta investigação irá revirar seus sentimentos. De onde vem o seu sentimento de culpa e seu pulso por auto-punição? Bem, não contarei aqui o que é, assistam a série e percebam que, talvez, o grande pecador que dá título à produção (“o The Sinner”) pode ser uma pessoa benevolente e ao mesmo tempo malévola.

A terceira temporada da série ainda continua incerta, mas a ideia de ver mais de Bill Pullman atuando num personagem denso me agrada bastante. Espero que pensem numa trama melhor para um possível terceiro ano. Você gostaria de ver o detetive Ambrose mais uma vez? Deixe seu comentário aqui no post! 

https://youtu.be/x4Jjp-mcyQo

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Daniel Gustavo

O destino é inexorável.

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