A Escritora perdida dentro da estante se sentia tão embaralhada e sozinha, onde uma singularidade de palavras desconexas aos seus sentimentos se formava em seus pensamentos e ela se encontrava travada ao mundo das histórias. O que fazer? Que caminho tomar? Ela queria voltar para quando os seus pensamentos jorravam ideias todos os dias e assim se transformavam em belíssimas histórias, mas algo a impedia de conectar as palavras com as rimas e os versos e assim formar as estrofes. 

Na cabeça de Laura as palavras eram todas feitas de vidro, delicadas demais e profundamente sensíveis ao seu contexto e ao som que emitiam, mas se fossem forçadas para dar vida ao texto, elas se quebravam em mil pedacinhos em um passe de mágica e perdiam todo aquele brilho que davam ao texto, se tornando em um imenso vazio. Durante todo o seu caminho na escrita, ela pensava que a poesia, enquanto tinha algum sentido sob essas palavras, era suave, clara, sentida e repleta de encantos. Mas isso era o que Laura costumava ser no passado; agora no presente ela está apagada, escura. A única coisa que ocupa sua mente é uma página em branco. Mais nada.

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Era fato. Ela estava passando por um bloqueio criativo. Ela não queria admitir isso, mas quanto mais cedo encarasse, tudo deixaria de ser pesado e se tornaria mais leve. Isso era definitivo? Preferia pensar que era só uma fase de sua vida devido ao seu pobre coração danificado. Qual era a causa? A causa era denominada Amor. Sabe aquele sentimento indescritível que nos faz suspirar e levitar e nos deixa fora do chão a maior parte do tempo? Pois então. Laura estava metaforicamente quebrada por dentro e por fora. A trava do seu bloqueio criativo era parte disso. 

O que aconteceu foi que o Amor mexeu com toda sua estrutura corporal. Claro que seu íntimo fora mais afetado. A desilusão amorosa que teve por um certo alguém mudou significativamente sua vida, resultando em uma quebra de pensamentos desordenados que agora estavam se deteriorando em meteoritos. Durante muito tempo eles ficaram adormecidos por lembranças de um passado eletrizante, eufórico e muito intenso, e ela não parou para pensar que estava vivendo o passado e não o presente.

 O fato era que “antes” era tudo muito lindo, só flores e maravilhas, mas quando chegou a fase do “durante” só ela estava sentindo o relacionamento; ele não estava. Agora, quando chegou o “depois”, veio o fim e demorou muito para Laura perceber esse fim em sua vida, mas quando notou o choque foi grande, já não restava mais nada dela. Quer dizer, ainda tinha as palavras, mas não era do mesmo jeito. Após esse acontecimento, as ideias evaporam de sua mente rapidamente e consequentemente as palavras também, e foi aí que se sentiu perdida em um mar infinito, onde tudo parecia sem sentido, longo e cansativo.

E como era o Amor na vida dela quando estava apaixonada e entregue a ele? O Amor em sua vida fazia enormes alterações: ela ficava ofegante, nervosa, com a visão turva, com as palavras misturadas e, confusa, ia alterando cada molécula sua com extremo cuidado. Quando finalizado o processo, ela se sentia envolta pela paixão, era como se ela estivesse enfeitiçada pelo Amor. Era assim que se sentia, mas isso tudo acabou. Foi o ponto final. Ou pelo menos ela achava que fosse.

Agora sua vida estar assim: pausada, sem nenhum complemento. Ela ainda lutava para adicionar algum verbo ou adjetivo ou deixar apenas as reticências como sinal de continuidade, mas tudo era muito difícil. Ainda faltava terminar seu romance, mas a próxima página em branco, tanto da sua vida quanto a de seu livro, ficavam encarando-a todos os dias, pois as palavras custavam aparecer em sua mente. Às vezes apareciam algumas soltas, mas sem nenhum significado. Então como daria a continuidade de sua história?

Primeiro, respirou bem fundo e delicadamente algumas reticências foram aparecendo na sua vida. Mas como? Foi aí que ela decidiu revelar o segredo do seu bloqueio criativo.

Primeiro, foi preciso um pouco de ânimo e coragem para recuperar sua escrita; e também parar de tentar, deixando a vida lhe levar, sem pressa, sem força. Com o sorriso no rosto e plena, foi vivendo um dia de cada vez, saboreando e apreciando cada momento. Dessa maneira, foi se reencontrando e recuperando suas ideias, suas palavras dentro da sua história, onde só ela sabia o final e podia alterá-lo quantas vezes quisesse se usasse com cuidado e sabiamente suas palavras.

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Sara Lacerda

Meu nome é Sara, tenho 34 anos, sou de Fortaleza-Ceará e desde a minha adolescência eu escrevo. Costumo dizer que respiro palavras e transpiro ideias, é como se eu renascesse em forma de palavras. E através delas estou sempre criando uma história nova, me reinventando. Enfim, amo tudo relacionado a Literatura e atualmente além dos meus escritos faço o curso de Letras-Inglês EAD e nos meus momentos livres adoro mergulhar em um bom livro e assistir a um filme e série.

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